segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

ESTRATÉGIAS SEXUAIS FEMININAS - NATUREZA HUMANA

 



Repetindo: em termos simplistas, existem interesses conflitantes entre homens e mulheres, quando o assunto é sexo. Como mulheres engravidam e homens não, elas querem casamento que lhes ajudem a criar filhos, e eles querem sexo sem pensar em filhos.

Essas são as bases para a “guerra dos sexos”: eles prometem casamento para obter sexo; elas prometem sexo para obter casamento.

Em termos caricaturais, são duas as estratégias sexuais femininas para atingir esses objetivos: a “Santa” e a “Puta”.

“Santa”: são mulheres de alto valor de acasalamento (em inglês, “mating value”), e sabem disso. São jovens, férteis, belas, gostosas. Esses itens são muito mais valiosos para uma mulher que para um homem, já que o tesão masculino é principalmente visual. Faz parte da injustiça e da desigualdade atroz com que a mãe natureza trata os sexos.

Além disso, têm boa situação social, recebem constantemente essas reafirmações vindas de seu entorno, estão portanto em situação de escolher os melhores parceiros. São “difíceis” de ser levadas para a cama por um homem, pois “eu não sou dessas”. Ele precisará apresentar-lhes altas credenciais de qualificação e sinais de comprometimento, de desejo de “algo mais sério” do que um simples encontro sexual. 

“Puta”: têm baixo valor de acasalamento, seja pela idade, pela aparência, pela condição social. Intuem, a partir daí, que não podem pedir alto preço para conceder acesso sexual aos homens, sobretudo aos de grande valor de mercado. 

Uma anedota misógina diz que as mulheres só diferem no preço cobrado pelo sexo: umas cobram casamento, outras “são dessas mulheres que só dizem sim; por uma coisa à toa, uma noitada boa, ou um corte de cetim”.

Sendo assim, cederão com facilidade ao desejo masculino de sexo, operando no atacado (enquanto a Santa opera no varejo, é muito mais seletiva). A mãe natureza se virá atendida, pois haverá filhos em ambas. Atualmente, a segunda conta com os testes de DNA, que podem, mesmo se não lhes dão marido, dar provedor para seus filhos.

Disclaimer: como toda caricatura, a acima desconsidera a complexidade, a variação, os desejos amorosos, as interações afetivas, o amor companheiro que pode surgir entre casais. O desenho caricato é um pontapé inicial, simplório, para se começar a pensar a partir das bases biológicas.

Lembrando: retratar a realidade não é defendê-la. A bactéria é natural; o antibiótico é totalmente antinatural. É preciso conhecer a realidade, assim como é preciso conhecer a bactéria que nos pode matar.






ESTRATÉGIAS SEXUAIS MASCULINAS - NATUREZA HUMANA

 



Em termos simplistas, existem interesses conflitantes entre homens e mulheres, quando o assunto é sexo. Como mulheres engravidam e homens não, elas querem casamento que lhes ajudem a criar filhos, e eles querem sexo sem pensar em filhos.

Essas são as bases para a “guerra dos sexos”: eles prometem casamento para obter sexo; elas prometem sexo para obter casamento.

Como resultado de uma soma de fatores – autoestima, aparência, crenças, desejos, formação, genética etc. – os homens desenvolverão duas principais estratégias de conquista sexual: o “papai” e o “cafajeste”. Não se trata de uma escolha consciente, mas de algo que vai crescendo neles sem que se deem conta. Abaixo, seguem caricaturas desses perfis.

1. “Papais”: costumam ter baixa autoestima sexual, têm a crença de que as mulheres são todas santas, que eles devem supô-las sem desejo, que apresentar seu desejo a elas será algo insultuoso, que elas precisam ser tratadas com reverência, que se ele as quer, deve oferecer muitas indenizações prévias ao crime de desejá-las, tais como promessa de casamento, de provimento, de proteção, de ter muitos filhos, de apresentá-la logo a amigos e família, de oferecer-lhes compromisso.

2. “Cafajestes”: dividem-se em dois grupos. 

a) Cafajeste do mal. Sofrem de donjuanismo compulsivo. Sua autoestima parece alta, mas não é. Têm o vício sadomasoquista do tipo fodão-merda, exibe sua fodonice para os amigos como forma de afirmação. Sua estratégia é enganadora, pois despreza as mulheres, há mesmo um componente misógino  de vingança contra elas. Ele as iludem com falsas promessas e juras de amor, mimetizando um “papai”, mas depois que as usam, eles as descartam e partem para a próxima.

b) Cafajeste do bem: autoestima sexual muito elevada, não se exibe, é discreto, não é predador. A beleza desse tipo é que ele respeita e admira as mulheres, gosta delas de verdade. A chave de seu sucesso é considerar que elas têm desejo sexual, sim, tal como ele, e que sua abordagem vai acrescentar felicidade à vida delas, pois vai permitir que desfrutem desse desejo sem culpa nem compromisso. Não prometem nada, nem elas pedem nada de volta, pois o encontro sexual acaba sendo uma troca justa, um jogo de ganha-ganha.

O último é um tipo raro, secretamente invejado por todos os homens que não o são, e secretamente (ou não tão secretamente) adorado pela imensa maioria das mulheres.




domingo, 30 de janeiro de 2022

MEDOS - O AMIGO PERGUNTA

 



“Qual o principal medo que nos atinge?”

Francisco Daudt: o medo de desamparo e seus derivados, como solidão, culpa, ridículo, sifudência, degredo, discriminação, má fama, rotulação, desqualificação, e em tempos de mídias sociais, cancelamento.

É incrível, mas esses medos acabam sendo maiores e tendo mais consequências psíquicas que os de ameaça física, doença e morte.


HÁ UM PREDADOR DENTRO DE NÓS; CUIDADO COM ELE

 


O risco das lutas justas é a vitória, e o que fazemos com ela.

Para o predador que existe em nós, a aspiração do oprimido é se tornar opressor. A inveja não ambiciona a igualdade, mas o privilégio. A luta contra a Ditadura militar não era por democracia, mas pela ditadura do proletariado.

A motivação predadora humana só aguarda meios e oportunidades.



FREUD E DARWIN CONVERSAM - O INDIVÍDUO CONVERSA COM A ESPÉCIE

 



Todos os seres vivos são como a galinha: uma máquina inventada pelo ovo para fabricar outro ovo.

A pena do pavão serve ao ovo através da atração que ele exerce sobre a fêmea; o voo do pavão serve ao ovo através da sobrevivência, para fugir dos predadores enquanto ele não se reproduz. Nós somos comandados pelo gene e seus interesses egoistas, a nossa própria sobrevivência só tem sentido para sustentar a multiplicação dos genes.

Nós somos totalmente descartáveis, do ponto de vista do gene. O esquisito é sermos conscientes, o que inaugura o conceito de indivíduo: os interesses dos indivíduos podem ser diferentes dos interesses dos genes, posso querer ter prazer e não passar meus genes adiante. Essa é a fascinante conversa a que vou me dedicar no próximo livro: indivíduo (psicanálise; Freud) conversa com a espécie (psicologia evolucionista; Darwin). 



ORGASMOS - O AMIGO PERGUNTA

 



“Existe mesmo essa coisa de diferentes orgasmos nas mulheres? De que o orgasmo vaginal é ‘mais maduro’ que orgasmo clitoriano?”

Francisco Daudt: Existem diferentes orgasmos, tanto para mulheres quanto para homens. Só essa história de “orgasmos maduros” é que é conversa fiada e idealização superegoica.

O orgasmo, como quase tudo na espécie humana, é também resultado da interação “nature-nurture”, natureza e criação, hardware e software, nascença e cultura. O pênis e o clitoris têm a mesma estrutura e origem anatômica. Nosso embrião tem genitais em forma original feminina. No caso dos meninos, ainda durante a gestação, os hormônios vão fechar a vagina e fazer crescer o clitoris, os ‘ovários’ descem e se transformam em testículos.

É assim que os meninos terão um clitoris/pênis exposto e sensível, impossível de escapar à estimulação: todos os meninos (só os meninos?) se masturbam, a masturbação é a principal vida sexual dos homens. Com isso, os circuitos cerebrais que permitem o orgasmo ficam muito bem treinados, e como consequência, não há homens que nunca tenham experimentado o orgasmo. A mãe natureza agradece, pois a existência da humanidade depende do orgasmo masculino. Além disso há a cultura, que os impele ao sexo, por gosto e afirmação de masculinidade.

Com as mulheres, é diferente. Sua estrutura genital é escondida. Uma vez, em sala de aula, pedi que os alunos situassem anatomicamente 1.ânus, 2.meato urinário, 3.canal vaginal e 4.clitoris, no sentido ventre-dorso. Eles deveriam escrever os números sequenciados num papel e me entregar. O índice de erros foi muito alto. (A propósito, a sequência certa é 4;2;3;1).

Com isso, a masturbação feminina já é menos comum. A inibição cultural sobre a sexualidade da mulheres costuma reprimi-la ainda mais: enquanto os homens temem se parecer com mulheres/gays, as mulheres temem se parecer com promíscuas/putas, isso contribui muito para que haja mulheres que nunca se masturbaram. Uma cliente me contou que, dentro do box da privada, em seu colégio interno, havia uma pintura na porta representando o olho de Deus num triângulo, com a legenda “Deus te vê!”

Não é de se espantar, portanto, que haja muitas mulheres que nunca experimentaram orgasmo, já que seus circuitos cerebrais para ele dependem do treino masturbatório.

As diferenças de orgasmo (intensidade de prazer), tanto dos homens quanto das mulheres, correm por conta da equação controle/entrega: quanto mais controle, menos prazer; quanto mais entrega, mais prazer. Um homem pode querer um orgasmo que é quase apenas um alívio: uma rapidinha, uma mera ejaculação. A propósito, o excesso de controle leva a um problema masculino: a ejaculação precoce.

O abandono dos controles é capaz de levar a orgasmos espetaculares. A entrega, em graus maiores, leva a orgasmo que toma o corpo inteiro, deixa a pessoa exausta, e em dois casos produz até miniconvulsões: os orgasmos vaginais e anais, estes últimos em mulheres e em homens. O orgasmo anal é tão diferente do orgasmo por estímulo genital, que os homens o experimentam sem ereção e sem ejaculação.

De novo, isso não tem nada a ver com graus de maturidade ou qualquer outro juízo de valor. É apenas fruto de capacidade orgânica (zona erógena) somada ao desejo de intensidade, que leva a um treino dedicado.


PSICOLOGIA EVOLUCIONISTA MAL COMPREENDIDA

 


Fiquei feliz de ver um psicanalista contemplando a psicologia evolucionista, mas… ele a entendeu mal. Não há essa separação tão forte entre bons e maus. A capacidade predadora mora em todos nós, a capacidade de altruísmo recíproco também.

A boa sociedade civilizada incentiva a segunda e diminui as chances para a primeira, pois sabe que “a ocasião faz o ladrão”. A boa justiça pune a predação com penas dosadas, e dá ao transgressor a oportunidade de se regenerar. O temor da justiça é um dos fatores que inibem nossas capacidades de predação. Mas o principal é o objetivo democrático de igualdade de oportunidades.

Existe sim o predador irrecuperável, a quem chamamos de psicopata/sociopata. Estes precisam ser afastados, em prisão perpétua, mas são minoria.