O cliente estava contando uma história para os amigos; seu pai, ainda que fora do grupo, escutava:
“Ele ficou encantado com a beleza da vizinha e botou na cabeça que iria se casar com ela. Marceneiro numa cidade pequena, se arrumou todo e foi fazer sua proposta. Mas a moça disse que era virgem, e que queria continuar assim. Ele disse que prometia não encostar nela, só queria que ela se casasse com ele. Ela aceitou, e eles se casaram”.
O pai, ao lado, comentou: “Mas que maluquice! Que cara bobo!”
A história continuou: “Acontece que uns tempos depois a moça ficou grávida… mas não do marido!” Comentário do pai: “Mas que sem-vergonha!”
“O marido foi tirar satisfações com a mulher, mas ela jurou que não tinha transado com ninguém, que continuava virgem”. O marido aceitou as explicações e a apoiou na gravidez. E o pai: “Além de corno, otário! Mas que mulerzinha mau-caráter!”
“Pois é, a gravidez correu bem, o menino nasceu e cresceu com saúde, amparado pela mãe e pelo marceneiro, e acabou mundialmente famoso, pois aos 33 anos foi condenado à morte e morreu crucificado”.
Nessa hora, o pai, católico fervoroso, deu um gemido fundo de dor, como se tivesse levado uma facada no peito. No dia seguinte, o cliente foi convocado pela mãe, que lhe deu uma descompostura por ter blasfemado na casa deles, que aquilo era inaceitável etc.
O filho respondeu que não, que nunca havia proferido uma blasfêmia, sequer um adjetivo, que ele tinha contado os simples fatos, sem a aura do sagrado, como os locais de Nazaré teriam feito, na época.