domingo, 31 de março de 2024

O VÍCIO DA MITOMANIA

 


Mitomania é um tipo de vício de autoengrandecimento através de mentiras ou exageros. Na mitomania a mentira não visa causar dano ao outro, visa causar-lhe admiração.

A mitomania é uma especie de sedução de plateia muito comum em tempos de redes sociais, em que o usuário repassa informações impactantes, porém falsas; imagens fake para obter likes.

A mitomania tem sua origem no medo de ser merda, a mitomania é comum entre narcisistas, como meio de arregimentar adoradores.

A mitomania mais comum atualmente está nas lideranças políticas extremadas: quanto menos democrática (vale dizer, considerativa), mais de mentiras chocantes ela se valerá.



terça-feira, 26 de março de 2024

A CURIOSA FUNÇÃO ESTABILIZADORA DA DOENÇA PSÍQUICA - A DOENÇA COMO UM “MAL MENOR”

 


A doença psíquica tem um curioso papel estabilizador na mente, pois ela substitui um drama maior por um drama menor e mais tolerável. 

O drama maior é o conflito entre as características da pessoa e o mundo externo que a ela se opõe, entre um desejo considerado inaceitável pelo Superego e a ameaça de desamparo com que ele ameaça a pessoa. 
Como exemplo, a fobia de baratas entra no lugar da raiva contra o pai: a raiva contra o pai é muito perigosa, pois ele pode desamparar a criança. A doença psíquica tira esse conflito de cena: “meu problema não é a ameaça que meu pai representa, e sim a ameaça que a barata representa.

Dessa maneira, a doença psíquica conta a história dos conflitos da criança, mas de maneira cifrada: é função da psicanálise decifrá-la para dar outra saída ao drama maior. 

Como exemplo, ao decifrar a fobia de baratas, podemos entender que a criança não estava aparelhada, não tinha competência para apresentar suas divergências com seu pai, não saberia o que fazer para que sua raiva encontrasse justiça, e por isso o processo de repressão se deu, e surgiu a doença. 

Ao entender a história que sua fobia conta, o agora adulto pode olhar e relevar as limitações de seu pai, mas pode sobretudo aprender a lidar com sua raiva com competência de adulto, já que a doença o congela nas poucas habilidades que a antiga criança tinha, de lidar com a raiva.




segunda-feira, 25 de março de 2024

KASPAR HAUSER, A CRIANÇA CONGELADA


Quando se vai saindo de uma doença psíquica, e a psicanálise precisa estar bem atenta e compreensiva quanto a isso, a pessoa começa a descongelar uma criança que morava dentro de si, e que foi mantida pela doença no porão da mente, como um Kaspar Hauser.

Foi por incompetência para gerenciar raiva e desejo erótico que a criança desenvolveu doença psíquica, pois não sabia negociar com o mundo. Ao sair dela, vai ter que aprender tudo como se fosse pela primeira vez. 
Vai se ver desastrada, como qualquer aprendiz. Vai se cobrar perfeição, vai se criticar, pois o Superego ainda não mudou. 

Cabe ao psicanalista: o acolhimento desse aprendizado; o debate com o Superego do cliente para que ele baixe a bola em suas cobranças; o ensinamento tolerante de que não há absorção de novo conhecimento sem erros, de que os erros fazem parte do processo.

É assim que a saúde ganha terreno sobre a doença, que o cliente (seu Eu, seu Ego) se torna percentualmente mais “dono da empresa”, que o Superego diminui seu poder tirânico.



 

domingo, 24 de março de 2024

PEIXE GRANDE

 



Tudo começa “em casa”: a submissão raivosa que temos com nosso próprio Superego, a maneira como nós nos defendemos dele: assumindo seu papel, cagando regra para os outros, fazendo e sofrendo bullying, sentindo angústia ao pensar no mundo, nos defendendo dessa angústia com TODOS os mecanismos de defesa, os que causam e os que não causam doenças psíquicas.      

Enfim, acho que peguei um “peixe grande”…




quarta-feira, 20 de março de 2024

O AMIGO PERGUNTA - “Todo narcisista é um sacana fdp?”

 



“Todo narcisista é um sacana fdp?”

Francisco Daudt: Não. É importante lembrar que os narcisistas nem sempre estão de sacanagem, nem sempre desenvolveram externamente doença sadomasoquista fodão-merda, apesar de seu Superego ter essa postura com eles. 

O que mais move os narcisistas é a necessidade de se defender do maior sofrimento que sua doença produz: o sentimento de ser um merda, uma ameaça a sua autoestima que estará sempre presente no Superego de um narcisista genético.



terça-feira, 12 de março de 2024

"VOCÊ QUER EXTIRPAR O SUPEREGO?"


Francisco Daudt: O Superego não é um ente físico, é mais um software desenvolvido a partir da transição da vida tribal de caçadores coletores para a vida nas cidades e o convívio com estranhos, sob o domínio de um governo tirânico que impõe leis idiotas.

O Superego é a internalização dessas leis. O Superego é o mal-estar na civilização. 

Eu não pretendo extirpar o Superego, pois isso é impossível. Eu pretendo democracia dentro (e fora) da mente. O Superego permanecerá com cadeiras no nosso "parlamento Interno", mas como um partido extremista autoritário... e minoritário. Fora do executivo. 

Ele continuará falando, mas não continuará mandando. Mesmo porque, o problema do Superego não é tanto o que ele fala, mas sim sua inflexível imposição do que fala.






 

CURA EM PSICANÁLISE

 



A psicanálise é um processo de permanente diagnóstico. Diagnóstico significa conhecimento amplo (do grego “dia”, que atravessa, que abrange completamente +  do grego,“gnosis”, conhecimento). 

É o diagnóstico continuado que torna consciente aquilo que estava causando doença, e que estava em nosso inconsciente. Portanto, a cura em psicanálise vem de conhecer mais e mais as origens e funcionamento das doenças psíquicas.

Todas as doenças psíquicas são “dramas menores que aparecem em lugar de dramas impossíveis de lidar”. Sim, mas essa impossibilidade de lidar vem da falta de conhecimento com que a pessoa foi apanhada no drama, geralmente na infância. 

Ou seja, o drama nos pega despreparados, dele vem uma doença que “desvia o assunto” para ela, e ao termos que lidar com a doença, nós nos mantemos na suposição de que somos incapazes de lidar com o drama.

Ao decodificar a doença em seu drama de origem, a reação costuma ser, “Ah, então era isso? Bem, não é tão complicado como eu pensava…”, e a doença some, por ter se tornado obsoleta em sua função.

Como exemplo, a neurose fóbica: ter medo de baratas substituiu um drama muito maior, que era a angústia causada por ter medo do desamparo, caso sua raiva contra quem o amparava (em geral, os pais da criança) fosse descoberta. A raiva tornou-se inconsciente, a ameaça de desamparo também, e em seu lugar surgiu o “drama da barata”, seguramente um drama menor e mais controlável.

Ora, o medo de ter raiva dos pais e de ser por eles desamparado vinha da total incompetência e inabilidade da criança, por não saber lidar com sua raiva. Não saber que a raiva é a reação natural frente às injustiças; não saber que a raiva pode ter outras saídas além da vingança; que ela ser conduzida a se fazer uma negociação em busca de justiça.

Então, essa raiva trazia um drama enorme: “afinal, eu amo meus pais, ou os odeio?” É um drama típico do “tudo ou nada”, do “ou uma coisa, ou outra” dos obsessivos.

Aquela pobre criança despreparada não tinha alternativas a não ser sentir uma angústia enorme. Ora, as doenças psíquicas são justamente fruto de mecanismos de defesa contra a angústia de desamparo. Ela passa a lidar com a doença, em vez de lidar com um drama que não saberia como administrar: um drama aterrorizante.

Quando a psicanálise vai diagnosticando todas as etapas do processo:

1. as injustiças da criação que produziram raiva; 

2. o julgamento idiota do Superego infantil de que a raiva contra os pais é um crime imperdoável, punível com o desamparo; a angústia que veio disso; 

3. o encontro com a barata, como substituto controlável para aquela ameaça; 

4. o congelamento em que a fobia mantém o drama, como se ele fosse insolúvel), finalmente o drama parece ter solução: ele não era o monstro imaginado; ele pode ser resolvido de outras maneiras.

Eis aí a cura em psicanálise.