domingo, 14 de janeiro de 2024

O QUE É A CONSCIÊNCIA

 


A nossa espécie ganhou o nome de “homo sapiens sapiens” porque Linæus a designou como o “homem que sabe que sabe”, características da autoconsciência, algo único entre as espécies. 

O “saber que sabe” é a consciência que nos interessa, a Freud e a mim. Ela não é um teatro, nem um filme, pois seu conteúdo não visual é imenso, apesar de ela poder ser conceituada como “o olho que vê para dentro”. 

Neste momento, p.ex., não há conteúdo visual para mim, apenas os conceituais, que me impulsionam para responder essa questão da maneira mais legal que posso.

A consciência lida o tempo todo com arquivos de memória, e ela os liga através da bússola do desejo (busca de prazer). Então, somos impulsionados pela busca do prazer (essa é a força do DNA, que nos leva à reprodução) para gerenciar nossos arquivos de memória com a finalidade de… nos causar mais prazer (ou arranjar jeitos de evitar desprazeres). 

É o que vejo sendo a consciência: uma ferramenta a mais para a reprodução/busca de prazer/sobrevivência.



PANDEMIA DE MIMADINHOS, LINHA DE MONTAGEM

 


Freud aponta os pais como origem dos traumas de seus clientes. Quando esses se tornam pais, morrem de medo de que seus filhos venham a falar mal deles com seus futuros analista. Como consequência, abrem mão da coisa mais importante na criação dos filhos, a AUTORIDADE. Passam a bajuladores dos filhos. Resultado: mimadinhos.

Marx divide o mundo em opressores e oprimidos. Os partidos comunistas ocupam todas as vagas de possíveis de professores, educadores e mídia, dentro das escolas e fora delas. O exemplo mais próximo de opressores que as crianças têm são seus pais. Ao mesmo tempo, é extremamente sedutora a posição de oprimidos, de coitadinhos, de vítimas, pois a manipulação do sentimento de culpa é fonte de muito poder. Quando esses filhos se tornam pais, morrem de medo de serem vistos como opressores. Como consequência, abrem mão da coisa mais importante na criação dos filhos, a AUTORIDADE. Passam a bajuladores dos filhos. Resultado: mimadinhos.

Lembrando: quando o assunto é governo, a ditadura é menos má que o caos, a falta de AUTORIDADE,  o caos é o pior cenário, mas… a democracia dá de dez!




sexta-feira, 27 de outubro de 2023

CASAMENTO MORNO - O AMIGO PERGUNTA

 


O AMIGO PERGUNTA 

“Tenho um casamento que está perto de comemorar dez anos. Logo no primeiro ano de namoro, o sexo mudou, porque veio o "Eu te amo". Depois que meu marido me colocou neste pedestal do amor, eu não pude mais ser o seu objeto de desejo carnal. Tudo ficou morno, ponderado, com mais respeito e menos frequência. Tentei conversar sobre isso muitas vezes, sempre responde que me ama e me deseja. Contudo, já o peguei se masturbando algumas vezes e isso me deixa muito triste. O que acontece com ele?”

Francisco Daudt: Seu marido parece ter um conceito de sexo que muitos homens têm, a divisão de mulheres em duas categorias apenas: a santa e a devassa. No tempo de conquista, a mulher está mais desconhecida, permite que a imaginação funcione mais, o sexo é menos pessoal, acaba se parecendo com a atividade sexual básica de todos os homens, que é a masturbação.

A partir do momento em que você se tornou importante para ele, você começou a ganhar a categoria de santa, e para o Superego dos homens, as santas são assexuadas, pois “são parentes”. Não é de espantar que ele tenha regredido à masturbação, que é o sexo seguro que ele conhece desde sempre.

Ele não foi apresentado ao sexo pessoal, que é uma decorrência do carinho afetuoso, do chamego feito na cama, sem compromisso com a aeróbica, mas que é capaz de despertar o tesão. Esse é o caminho para o sexo pessoal, para muitos homens que fazem aquela separação de que falei acima.

Sugiro que você mostre essa carta para ele, para que ele se sinta compreendido e acolhido, enquanto lhe indica uma saída vantajosa de uma situação que também deve incomodá-lo.



sábado, 23 de setembro de 2023

FORA DO ALCANCE DA PSICANÁLISE: NEURODIVERGENTES

 



As doenças psíquicas que a psicanálise é capaz de tratar (e de buscar sua cura, é o que defendo) são alterações do software causadas pela criação, mesmo quando há gatilhos genéticos (como nos vícios e na depressão, p.ex.).

Já nas neurodivergências, o psicanalista vai precisar de auxílio externo, farmacológico ou de outras especialidades. Como já precisava, no caso de doenças físicas, ou mesmo nas depressões, que requerem medicação.

Mas como essas são problemas de hardware cerebral que afetam o comportamento e as emoções, a fronteira é menos clara. Um psicanalista menos informado (ou mais onipotente) pode acreditar que é só assunto dele.

É um momento de humildade científica, para o psicanalista. O momento de saber seus limites e de procurar por quem possa vir em auxílio de seu cliente.

As neurodivergências mais comuns são: autismo, TDAH, dislexia, discalculia, dispraxia, síndrome de Tourette e bipolaridade. É preciso saber diagnosticar (ou pelo menos suspeitar do diagnóstico) e buscar ajuda externa. 



MAIS SOBRE O AUTISMO parte 2 - Renata Longhi responde

 



Francisco Daudt: “Son-Rise”. Achei lindo o nome do instituto, mistura de nascer do sol com criar filho. Como são os graus do TEA (Transtorno do Espectro Autista)?

Renata Longhi: “Sim, muito bem observado. Essa terapia é totalmente sobre “ nascer do sol” no sentido de “ despertar”, e brinca com o despertar do filho: lindo mesmo.

Segundo o DSM americano e o Cid 11 , existem 3 graus de autismo :

1. Leve , que nao precisa de suporte ou precisa de pouquíssimo suporte.

Nesse nivel o indivíduo possui alguma dificuldade no âmbito social, mas consegue ter uma vida típica sem grandes dificuldades; geralmente possuem hiperfoco e são bastante competentes no que se propõem , mas podem ter algumas questões sensórias tambem.

2. Autismo moderado. Precisa de apoio, é necessário algum tipo de moderação, possui comprometimento na comunicação ( verbal e não verbal), apresenta algum grau de hipersensibilidade, possui hiperfoco e apresenta comportamentos repetitivos.

3. Autismo severo. Apresenta grande dependência, necessita de alto grau de apoio (autista clásico de antigamente): a pessoa não consegue se comunicar, capacidade cognitiva bem prejudicada, são indivíduos bastante rígidos , apresentam movimentos repetitivos e nao possuem capacidade de interação social.

Já na terapia Son Rise o autismo é dividido em 5 niveis (o que acho bem mais sensato, uma vez que o espectro é enorme).

E são usadas quatro categorias para determinar o grau de autismo:

1. Comunicação nao verbal ( contato visual, compreensão de expressão facial etc).

2. Comunicação verbal (vocabulário e tempo de conversação).

3. Atenção interativa (duração e frequência).

4. Flexibilidade ( capacidade de controle da rigidez).

(Na foto, Gabriel torcendo por seu time do coração) 



ZONAS ERÓGENAS E ORIENTAÇÃO SEXUAL

 



“Descobri com uma parceira muito ativa e criativa que tenho sensibilidade anal. Adorei, mas… fiquei preocupado. Seria um sinal de homoerotismo latente? Tem chances de eu ser gay?”

Francisco Daudt: Eu tenho ouvido a mesma pergunta no consultório, muitas vezes, de clientes que já estiveram em outras análises e infelizmente escutaram absurdos de seus terapeutas. Minha pesquisa informal me mostra que a ignorância e o preconceito quanto ao assunto também atingem a muitos analistas.

Mas, vamos lá. A distribuição de zonas erógenas em cada indivíduo é fruto da loteria genética. E não estou falando só de homens, não. Há inúmeras mulheres que não têm o canal vaginal como zona erógena, e por isso só conseguem orgasmos clitorianos.

Aliás, nem o canal vaginal, nem os mamilos. Assim como há homens nascidos com a sorte de tê-los, tanto os mamilos quanto o canal retal, como fontes de extremo prazer: se bem cuidados, podem haver orgasmos anais e mamilares (ambos sem ejaculação, idênticos aos de mulheres).

Retornando então à sua pergunta: não, não há nenhuma correlação entre sensibilidade anal e orientação sexual. Já atendi a gays passivos que tinham prazer em ser possuídos, mas um prazer exclusivamente emocional, psicológico, quase nenhum físico, pois não haviam nascido com aquela sorte. Frequentemente se masturbavam durante a penetração, assim como fazem muitas mulheres.

Em contrapartida, uma cliente especialmente ativa e criativa me disse que ela sempre pesquisa o prazer ano-retal de seus parceiros, e que tem encontrado alto índice de deslumbramento, nesse setor. Ou, em suas palavras, num primor de concisão, “c*zinho de hétero é o paraíso perdido!”.



DIAGNÓSTICOS EM PSICANÁLISE Capítulo 6º Neuroses 4 - Melancolia

 


DIAGNÓSTICOS EM PSICANÁLISE Capítulo 6º Neuroses 4

Melancolia

É uma forma de luto patológico. Está entre neurose e vício sadomasoquista. Não tem a ver com a concepção comum de “pessoa melancólica” (triste, depressiva, ensimesmada).

Melancolia (do grego, melanos = preto + cholis = bile), originalmente significa “envenenamento pela bile negra”. Os antigos consideravam o fígado como produtor de “maus humores”.

Dessa concepção vieram: “inimigo figadal”, “pensar com o fígado”, “indivíduo bilioso” (de mau humor), “atrabiliário” (mau humor da bile negra), todas expressões em desuso.

Freud a usou para conceituar uma modalidade doentia de luto: a pessoa absorveria o jeito cruel de um pai ou mãe perdidos, passaria a agir cruelmente com os outros como eles, e em seguida morreria de culpa e de severas autocríticas por ter se comportado assim.

Com isso “manteria viva” a relação perdida, em sua modalidade sadomasoquista: criticaria o defunto em si mesma; seria a um tempo (ou em dois tempos) a mãe cruel (1º tempo) e a filha que nunca a pôde criticar (2º tempo).

Hoje em dia, depois de ter acompanhado várias relações entre filhos/as e mães/pais narcisistas, creio que estamos falando da mesma coisa: a origem desse luto estaria na relação sadomasoquista com o narcisista, que, na impossibilidade de ter-se resolvido na relação original, se “reviveria” na relação entre a pessoa e aquelas a quem ela fere atualmente… mas com esse tipo de remorso, a auto-recriminação grave, o autoesculacho cruel.

Ou seja, a melancolia é um autoenvenenamento…