(Nos capítulos anteriores: Já sem a culpa de parricida incestuoso, Édipo não se vê mais como assassino, pois o que fez foi em legítima defesa).
Analista: “Mas, como o Sr. veio a se casar com Jocasta, sua mãe BIOLÓGICA, fato que o Sr. desconhecia?”
Édipo: “Foi um acidente do destino. Quando fui chegando a Tebas, deparei-me com outra praga local: a Esfinge. Esse monstro devorava os passantes que não lhe decifrassem seu enigma, o mesmo que propôs a mim: “Qual é o animal que anda sobre quatro patas de manhã, sobre duas ao meio-dia, e sobre três ao anoitecer? Decifra-me, ou eu te devoro!”
Pensei um pouco, e respondi: o homem, que engatinha na infância, anda sobre os próprios pés quando cresce, e usa uma bengala quando velho. Foi assim que derrotei e matei a Esfinge, livrando Tebas daquela praga”.
Analista: “Bem, então não só o Sr. não causou uma praga, mas livrou Tebas de outra!”
Édipo: “(pensativo)… mas essa outra foi o começo de minha desdita, pois me tornei herói, fui recebido em Tebas como tal, em triunfo, e escolhido - praticamente obrigado - a ser o novo rei, com a obrigação de me casar com a rainha viúva (sim, a notícia da morte de Laio havia chegado antes de mim)”.
A. : “Então, nem foi sua a iniciativa de fazer a corte e seduzir Jocasta. Temos aí uma culpa a menos. Agora quero saber do resto da história. O que lhe contou Tirésias?”
“E. : “Tudo começa quando minha mãe me deu à luz. Laio foi a Delfos se consultar com a Pitonisa. Ela deu-lhe a sentença fatal: ‘seu filho o matará, e se casará com sua mulher’. Para fugir ao destino, ele mandou que um escravo me levasse ao campo e me matasse. Mas de mim ele se apiedou, amarrou meus pés e me abandonou lá. Foi assim que fui encontrado pelos servos do rei de Corinto: fraco e com os pés inchados pelas amarras - meu nome vem daí, Édipo significa ‘de pés inchados’.
Cresci pois, príncipe de Corinto, sem saber que era adotado. Tanto que, quando correram rumores sobre minha origem duvidosa, resolvi ir a Delfos, e… desgraça minha, me consultar com a Pitonisa. Ela me disse o mesmo de sempre: ‘seu destino é matar seu pai e casar-se com sua mãe’. Foi por isso que fugi de Corinto… e toda a desgraça se cumpriu! É, doutor, entendi que ninguém foge a seu destino…”
A. : “Pode ser que não, mas, quando entendemos nossa história, podemos interferir nele, corrigi-lo. Veja, o Sr. ficou prisioneiro de crenças estranhas de seus pais, quer os biológicos, quer os adotivos. O primeiro acreditou ver em você um assassino; o segundo acreditou que ser sincero sobre sua origem tiraria sua legitimidade de príncipe. Eis a trama complexa que manipulou sua vida, caro Édipo: seu complexo de Édipo”.
FIM