(No capítulo anterior: um Édipo desesperado vai ao consultório do psicanalista, e lá conclui que não tinha conhecimento de que Jocasta e Laio eram seus pais biológicos, antes que as circunstâncias o levassem a matá-lo e a se casar com ela).
“Bem, majestade, conte-me o que sabe de sua história, desde o início, sim?”
“Tudo o que sei me foi contado por Tirésias. Foi ele quem me disse que matei meu pai verdadeiro, e me casei com minha mãe verdadeira!”
“Pais verdadeiros? Mas o Sr. não cresceu em Corinto, e lá era filho dos reis? O que entendi é que Laio e Jocasta eram seus pais, sim, mas pais biológicos. Quem o adotou, amparou e educou por todos esses anos são aqueles que merecem ser chamados de pais verdadeiros. Os outros, os desconhecidos, são seus pais biológicos. Mas, por favor, continue. Como foi que um príncipe de Tebas acabou sendo príncipe de Corinto?”
“(Édipo, pensativo) Sim, é verdade, só conheci os reis de Corinto como meus pais… Não posso renegá-los, são eles meus pais verdadeiros… Mas, certo, vou continuar. Não foi fácil o momento em que rumores começaram em Corinto, suspeitando de minha origem, de minha legitimidade como príncipe. Foi isso que me levou a Delfos, para consultar a pitonisa. Queria saber qual era o meu destino. Ela me disse que estava escrito: eu mataria meu pai e me casaria com minha mãe! Para escapar de tal sina horrível, pois amo os dois, resolvi largar tudo e fugir de minha cidade…”
“Foi então por amor a seus pais verdadeiros que renunciou a tudo, à riqueza, ao título de futuro rei, e deixou Corinto para trás… Veja, por amor! E o Sr. se considera um monstro… Mas, continue.”
“Tomei a estrada de Tebas. Já depois de dois dias de caminhada, vi que em minha direção vinha uma carruagem, com batedores à frente, expulsando os caminhantes a chicotadas. Vieram sobre mim, e eu os derrubei com minha espada. Foi quando o homem na carruagem me atacou, tentou me matar, mas eu consegui me defender e matei-o antes… Oh, horror! Hoje sei que esse homem era meu pai, que era o rei Laio, de Tebas! Matei meu pai, doutor, meu pai!!” (Édipo cai em prantos)
“Espere, o Sr. não matou seu pai. Matou, sim, um estranho que tentava matá-lo, matou em legítima defesa!”
(Édipo levanta a cabeça e olha, perplexo, para o psicanalista).
Continua no próximo capítulo.