Através de uma linha de montagem genético-cultural:
1. Nascemos com softwares de sobrevivência, atentos a cobras, escuridão, confinamento, altura, grandes insetos voadores etc., mas principalmente ao medo do desamparo.
2. O medo do desamparo nos torna alertas ao que desagrada a nossos pais, e a prestar muita atenção ao que eles dizem sobre isso.
3. Se eles nos rotulam, ou nos comparam a alguém horrível (“Você está igual ao filho do vizinho, aquela criança malvada”), aprendemos sobre a existência de antimodelos, pessoas ou qualidades que devemos evitar como à peste. Mais tarde serão os outros, a cultura, e sobretudo o senso comum que vão criar antimodelos e nos manipular com eles.
É assim que o Superego se forma: um software genético-cultural que nos cobra perfeição, nos julga e nos ameaça, e que não distinguimos de nós mesmos.
4. Quando essa acusação/comparação, que vinha de fora, começa a vir de nossa própria cabeça, aí começa a vergonha de ser horrível, aí começa o sentimento de culpa.
5. O sentimento de culpa é a arma de manipulação mais eficiente que a humanidade já inventou: alguém pode te pôr de joelhos usando uma arma, e você se levantará quando a arma sumir. Mas se você se sente culpado, é você mesmo que vai implorar perdão… de joelhos, que nem o Fiuk.
Abaixo, o “João Felpudo” (aquela criança horrível inventada pelo alemão Hoffmann, que não corta as unhas nem o cabelo, não toma banho nem escova os dentes), e “Juca e Chico” (duas pestes malvadas, que acabam tendo ‘o que merecem’, invenção do alemão Wilhelm Busch). Personagens muito usados pelas mães de outrora: “Você está igual ao João Felpudo!”