Uma amiga, estudante dos franceses Deleuze, Guattari, Foucault et.al., costumava se referir ao bom-senso como “bom senso/senso-comum”, como se fossem sinônimos.
Não sei de onde ela tirou isso, mas eles são dois conceitos que não se confundem, apesar de conterem ideias em comum.
O bom-senso fala da lógica contida num conceito; o senso-comum fala da crença comum partilhada por grande número de pessoas, não importa se tenha lógica ou não. É aquilo que “todo mundo sabe que é assim”.
“É melhor fazer alguma poupança, pois não existe destino mais cruel que ser velho pobre” faz parte do bom senso.
“Água mole em pedra dura tanto bate até que fura”, “Deus ajuda a quem cedo madruga”, “mais vale um pássaro na mão do que dois voando” e a maioria das máximas, provérbios e ditados falam do senso comum.
O senso comum é a crença - ou mesmo religião - mais poderosa do mundo, não à toa ele clama que “todo mundo sabe que é assim”. É tão sutil e poderosa que nem reconhecida como crença ele é. Apenas é…
O senso comum nos pensa como rebanho; o bom senso pode ser facilmente contestado pelo indivíduo: “isso não me parece de bom senso”. Ele está mais próximo do senso crítico, dá mais liberdade de estranhamento.
Essas reflexões me vieram quando um amigo me contou de sua viagem à família, que mora em Minas: “Não vai comer arroz? Tá fresquinho, viu!”, “Mas, nem um pouquinho?”, “Vai nos fazer essa desfeita?”
Ele cometera a blasfêmia de não querer arroz. Olha a religião aí, gente…