Alberto Maia: “Que livro de técnica psicanalítica você sugere?”
Francisco Daudt: Nenhum. Vou te contar como se desenvolveu a minha técnica, e daí tire suas próprias conclusões.
É claro que tive dois modelos principais: Freud e meu analista formador, que era freudiano. Li e olhei o que eles diziam e faziam. Deduzi que Freud construiu sua técnica de acordo com seus propósitos. A coisa do divã e da poltrona por trás vieram da hipnose, somada ao fato de ele querer escrever sem que o cliente visse, e de não gostar de ser encarado pelos clientes.
Quando defini meus propósitos psicanalíticos, construí uma técnica para servi-los. É tudo uma sequência lógica: se meus propósitos são estar a serviço do cliente para sua busca da felicidade, devo saber qual o caminho; se creio que esse caminho é o conhecimento do desejo e dos atrapalhadores à sua realização, quero o melhor meio de investigá-los; se estou convencido de que o Superego faz parte dos atrapalhadores, não posso ser um representante do Superego, não posso estar acima do cliente, não posso julgá-lo, fazê-lo sentir-se culpado, humilhado, envergonhado. Quero ser parceiro dele, olhar com ele seus problemas, conhecer com ele seus desejos.
Isso é um começo de conversa. Que se traduz numa técnica, numa postura: quero ser afável, empático, bem-humorado, não fazedor de drama, não misterioso e nem enigmático, não posso deixar o cliente esperando (pontualidade) e quero ter disponibilidade previsível (tempo certo de sessão).
O atendimento on-line, portanto, não foi nenhuma mudança drástica: já não uso o divã há anos. Além de os clientes não pegarem trânsito nem procurarem vaga.