domingo, 10 de abril de 2022

SEXO, PARA OS HOMENS: O PONTO DE VISTA ECONÔMICO

 



Tudo começa pela natureza: homens não engravidam e são encharcados de testosterona (o hormônio sem o qual não existe desejo).

Isso implica, de saída, baixo custo e alto benefício, para a prática do sexo. Como tudo que fazemos depende de motivação, meios e oportunidades, são eles que vão pautar a quantidade de investimento que um homem fará para obter o prazer do sexo.

Grosso modo, pode-se dividir em três tipos, de investimento crescente, a atividade sexual masculina:
1. Custo zero: masturbação.
2. Custo baixo/médio: putaria.
3. Custo médio/alto: sexo pessoal relevante.

Do tipo 1: a masturbação masculina ainda está ligada à natureza. Como é vital para a procriação que os homens emitam seu sêmen, e como para isso é necessário que tenham orgasmo, a mãe natureza praticamente impôs a que todos eles se masturbassem, em algum momento da vida, ou (mais comumente) pela vida afora. O custo é zero, o benefício é máximo. Mesmo no casamento monogâmico, a masturbação é o consolo de não se ter outras pessoas envolvidas. Tive uma cliente que era enciumada das masturbações do marido; expliquei-lhe como os homens funcionam, e que ela era a maior beneficiária.

Do tipo 2: a putaria, também chamada de malandragem, orgia, pegação, sacanagem, transgressão (a sinonímia é extensa, dado o sucesso que faz), é o sexo casual sem compromisso e de baixa relevância pessoal. Requer alguma negociação, coisa inexistente na masturbação.

Desde as “nights” da garotada, à prostituição e aos aplicativos de encontro, o custo não é zero, mas é baixo - mesmo quando caro, seja em dinheiro, seja em investimento pessoal. Isso costuma ser mal compreendido pelas mulheres, que não entendem a falta de relevância que a putaria tem para um homem, e por isso podem ter dela um ciúme desproporcional.

Do tipo 3: quando a pessoalidade começa a ser envolvida, o custo de investimento dispara… e o retorno em benefícios fica mais crítico. Vai desde o pobre coitado, prisioneiro do senso comum, que entra na linha de montagem social “já se formou, já tem um emprego, tem que entrar para o rol dos homens sérios, se casar e fazer família”…

…até o extremo de complexidade, daquele que é capaz de saber sobre seu desejo, e encontrar parceria que com ele encaixe em vários níveis de interseção, e com isso construir um amor companheiro, uma situação de investimento máximo, custo mínimo (pela parceria recíproca) e retorno/benefício inigualável.





ANTIDEPRESSIVOS - O AMIGO PERGUNTA

 



“Como qualifica sua experiência com os antidepressivos?”

Francisco Daudt: Como ótima. Eles são uma ferramenta preciosa para a psicanálise, pois retiram o sofrimento e assim liberam a inteligência do cliente para que possamos tratar do software, que é o objetivo dela.

Andei vendo que há antidepressivos específicos para modalidades diferentes de depressão. Dois em especial me chamam a atenção: o Bromidrato de Citalopran (nome comercial: Cipramil, e outros) e o Oxalato de Escitalopran (nome comercial: Lexapro, e outros).

O Citalopran brilha em depressões típicas (falta de graça na vida e pensamentos catastróficos), mas é um espetáculo naquelas com uma característica pouco conhecida: a irritabilidade e os ataques de fúria. Já preveni que muitos clientes fossem parar na delegacia, por causa da lei Maria da Penha, porque eles estavam usando Citalopran, e nunca mais tiveram ataques de fúria.

O Escitalopran é ótimo na depressões que se acompanham de fobias, síndrome do pânico e ideias obsessivas invasivas.

Lembro-me sempre de Freud dizendo que, no futuro, ele esperava que houvesse fármacos a produzir nos clientes melhoras que a psicanálise não conseguia.

Querido professor, esse tempo chegou!





PRECONCEITOS

 



Aposto que, quando você leu o título desta postagem, pensou que eu ia falar contra os preconceitos, certo? Pois isso foi um preconceito seu.

É impossível viver sem preconceitos. O simples fato de você achar que está entendendo o escrito aqui, já é um preconceito: você está transferindo seus conceitos do significado das palavras ao texto que escrevo… e eu poderia estar chamando urubu de “meu louro”.

O preconceito mais comum da espécie, aquele que tem salvado a vida de milhões ao longo do tempo, é o que diz “se é estranho, é inimigo”. Você abriria mão desse preconceito ao andar por uma rua deserta à noite, ouvindo passos em sua direção?

Se o estranho começa a aparecer com sinais familiares, o preconceito muda de direção: passa a ser preconceito a favor. Mas continua preconceito.

Qualquer aparição pública minha é cuidadosamente pensada para que eu desperte preconceito a meu favor: maneira de falar, de vestir, de cortar o cabelo e aparar a barba. Ou aqui, meu jeito de escrever, a ilustração que escolho para a postagem etc.

Meu filho trouxe um colega de jiu-jítsu para almoçar. Foi quando me dei conta de que um negro entrava em minha casa como convidado social. Durante o almoço, esqueci que ele era negro, pois virou Samuel.

A criminalização do racismo é necessária, porém não suficiente. A culpabilização do preconceito racial é má estratégia, por conter injustiça (estranho/inimigo). O problema não é ter preconceitos, o problema é tê-los pétreos: quanto mais negros virarem Samuel, mais preconceitos a favor competirão com os outros em nossa cabeça, mais flexíveis nossos preconceitos serão, diante das evidências.

P.S. : Tenho consciência de que meu texto pode despertar uma chuva de preconceitos contra mim, tão delicado é o tema.

Mas corro o risco. Tenho um preconceito sobre a inteligência dos meus leitores: é a favor…

(Na imagem do post: Sidney Poitier, em “Advinhe quem vem para jantar”, 1967. Poucas pessoas fizeram mais para diminuir o preconceito racial do que Sidney Poitier: ele era o Samuel em pessoa!)





DESEJO E PRAZER - O AMIGO PERGUNTA

 



De Bony Schachter: “Qual a diferença entre desejo e prazer?”

Francisco Daudt: Grosso modo, é a mesma que entre tensão e alívio. Mas… estamos falando da espécie humana e seu cérebro, a maior complexidade que existe, portanto é melhor ir somando as simplicidades, ir afinando o “grosso modo”.

Fome é necessidade; causa tensão, desconforto, incômodo, desprazer. Apetite é desejo; pode ser prazeroso sentir apetite… por um tempo. Se sua provocação se prolonga, a coisa começa a incomodar levemente, a funcionar como tensão a buscar ação que o satisfaça, mas ainda continua gostosa.

Mas o prazer só virá quando o objeto desse apetite estiver na boca. Dificilmente alguém chamará esse momento de alívio, tão gostoso ele é.

O ponto central está na ligação entre desejo e seu objeto. Se a fome/necessidade pode passar com mingau de aveia, o apetite/desejo quer sorvete de pitanga. Se um é simplório, o outro é complexo, específico.

O mesmo se passa com o tesão. A própria palavra é derivada de tensão, da busca de alívio. Como no binômio fome/apetite, ele vai do simplório desconfortável ao complexo, específico, gostoso. Do “eu tô na secura, qualquer buraco serve” ao “eu quero a sorte de um amor tranquilo, com sabor de fruta mordida”.

O que nos leva a Santo Agostinho: “É necessário um mínimo de bem-estar material, para a prática das virtudes”. Para se conhecer o desejo e a complexidade, é preciso sair da fome e da necessidade.





CONTROLE E ENTREGA

 



Você já viu criança brigando contra o sono. Ela fica chatinha, resmungona, chorosa… até cair desmaiada.

Existem situações que exigem de nós o desligamento dos controles e a entrega total, caso contrário não acontecem, ou acontecem mais ou menos, assim assim…

Não são só as crianças que brigam contra o sono. Adultos obsessivos que não desaceleram, não conseguem parar de pensar, adolescentes com f.o.m.o., e tantos outros que querem controlá-lo, forçá-lo, qualquer coisa, menos “se entregar nos braços de Morfeu” (filho de Hipnos, o deus grego do sono, Morfeu era o deus dos sonhos). Daí vem o sucesso dos remédios que nos põem para dormir na base da porrada.

As funções intestinais e da bexiga são outro exemplo em que controle e entrega precisam conversar. Freud considerou o aprendizado do controle dos esfíncteres como a principal metáfora do nosso processo civilizatório: a famosa “fase anal”. Existe hora de prender, existe hora de soltar; é preciso atender a cultura (usar o local adequado), é preciso atender às demandas do corpo.

Mas novamente, se na hora não houver entrega, se os controles não se desligarem, haverá prisão de ventre, retenção urinária (ou aquela demora horrível no mictório do cinema, com gente atrás esperando) e, pior das inconveniências, eventuais explosões e escapes…

Com o orgasmo é a mesma coisa. Nas mulheres, a relação entrega/orgasmo é mais evidente. Mas com os homens, o mesmo se passa: o pênis tem ideias próprias, é preciso ouvi-lo, respeitá-lo; de alguma maneira, se entregar a seu comando. Querer impor-lhe comportamentos é receita garantida para sua rebeldia: ou não sobe, ou ejacula rápido, ou não ejacula de todo. Mas orgasmo que é bom, nada…





PLANO DIABÓLICO

 



A cliente me descreveu sua vida de filha única, com uma mãe superprotetora, super interferente, super obsessiva, atormentada por pensamentos catastróficos sobre o que poderia acontecer com sua menina (de 52 anos).

“Vou receitar antidepressivo”, disse eu.

“Mas eu não me sinto deprimida”, respondeu.

“Não é para você, é para sua mãe. Se aliviarmos os tormentos dela, vamos aliviar os seus”.

O sucesso foi tamanho que, tempos depois, recebi uma ligação da mãe: “Doutor, minha filha está viajando, o senhor poderia me passar uma receita daquelas vitaminas maravilhosas que eu tomo?”

Posso, claro. Pois tudo segue meu plano diabólico de fazer felizes meus clientes… e a mim também. 



segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

ESTRATÉGIAS SEXUAIS FEMININAS - NATUREZA HUMANA

 



Repetindo: em termos simplistas, existem interesses conflitantes entre homens e mulheres, quando o assunto é sexo. Como mulheres engravidam e homens não, elas querem casamento que lhes ajudem a criar filhos, e eles querem sexo sem pensar em filhos.

Essas são as bases para a “guerra dos sexos”: eles prometem casamento para obter sexo; elas prometem sexo para obter casamento.

Em termos caricaturais, são duas as estratégias sexuais femininas para atingir esses objetivos: a “Santa” e a “Puta”.

“Santa”: são mulheres de alto valor de acasalamento (em inglês, “mating value”), e sabem disso. São jovens, férteis, belas, gostosas. Esses itens são muito mais valiosos para uma mulher que para um homem, já que o tesão masculino é principalmente visual. Faz parte da injustiça e da desigualdade atroz com que a mãe natureza trata os sexos.

Além disso, têm boa situação social, recebem constantemente essas reafirmações vindas de seu entorno, estão portanto em situação de escolher os melhores parceiros. São “difíceis” de ser levadas para a cama por um homem, pois “eu não sou dessas”. Ele precisará apresentar-lhes altas credenciais de qualificação e sinais de comprometimento, de desejo de “algo mais sério” do que um simples encontro sexual. 

“Puta”: têm baixo valor de acasalamento, seja pela idade, pela aparência, pela condição social. Intuem, a partir daí, que não podem pedir alto preço para conceder acesso sexual aos homens, sobretudo aos de grande valor de mercado. 

Uma anedota misógina diz que as mulheres só diferem no preço cobrado pelo sexo: umas cobram casamento, outras “são dessas mulheres que só dizem sim; por uma coisa à toa, uma noitada boa, ou um corte de cetim”.

Sendo assim, cederão com facilidade ao desejo masculino de sexo, operando no atacado (enquanto a Santa opera no varejo, é muito mais seletiva). A mãe natureza se virá atendida, pois haverá filhos em ambas. Atualmente, a segunda conta com os testes de DNA, que podem, mesmo se não lhes dão marido, dar provedor para seus filhos.

Disclaimer: como toda caricatura, a acima desconsidera a complexidade, a variação, os desejos amorosos, as interações afetivas, o amor companheiro que pode surgir entre casais. O desenho caricato é um pontapé inicial, simplório, para se começar a pensar a partir das bases biológicas.

Lembrando: retratar a realidade não é defendê-la. A bactéria é natural; o antibiótico é totalmente antinatural. É preciso conhecer a realidade, assim como é preciso conhecer a bactéria que nos pode matar.