domingo, 10 de abril de 2022

DESEJO E PRAZER - O AMIGO PERGUNTA

 



De Bony Schachter: “Qual a diferença entre desejo e prazer?”

Francisco Daudt: Grosso modo, é a mesma que entre tensão e alívio. Mas… estamos falando da espécie humana e seu cérebro, a maior complexidade que existe, portanto é melhor ir somando as simplicidades, ir afinando o “grosso modo”.

Fome é necessidade; causa tensão, desconforto, incômodo, desprazer. Apetite é desejo; pode ser prazeroso sentir apetite… por um tempo. Se sua provocação se prolonga, a coisa começa a incomodar levemente, a funcionar como tensão a buscar ação que o satisfaça, mas ainda continua gostosa.

Mas o prazer só virá quando o objeto desse apetite estiver na boca. Dificilmente alguém chamará esse momento de alívio, tão gostoso ele é.

O ponto central está na ligação entre desejo e seu objeto. Se a fome/necessidade pode passar com mingau de aveia, o apetite/desejo quer sorvete de pitanga. Se um é simplório, o outro é complexo, específico.

O mesmo se passa com o tesão. A própria palavra é derivada de tensão, da busca de alívio. Como no binômio fome/apetite, ele vai do simplório desconfortável ao complexo, específico, gostoso. Do “eu tô na secura, qualquer buraco serve” ao “eu quero a sorte de um amor tranquilo, com sabor de fruta mordida”.

O que nos leva a Santo Agostinho: “É necessário um mínimo de bem-estar material, para a prática das virtudes”. Para se conhecer o desejo e a complexidade, é preciso sair da fome e da necessidade.





CONTROLE E ENTREGA

 



Você já viu criança brigando contra o sono. Ela fica chatinha, resmungona, chorosa… até cair desmaiada.

Existem situações que exigem de nós o desligamento dos controles e a entrega total, caso contrário não acontecem, ou acontecem mais ou menos, assim assim…

Não são só as crianças que brigam contra o sono. Adultos obsessivos que não desaceleram, não conseguem parar de pensar, adolescentes com f.o.m.o., e tantos outros que querem controlá-lo, forçá-lo, qualquer coisa, menos “se entregar nos braços de Morfeu” (filho de Hipnos, o deus grego do sono, Morfeu era o deus dos sonhos). Daí vem o sucesso dos remédios que nos põem para dormir na base da porrada.

As funções intestinais e da bexiga são outro exemplo em que controle e entrega precisam conversar. Freud considerou o aprendizado do controle dos esfíncteres como a principal metáfora do nosso processo civilizatório: a famosa “fase anal”. Existe hora de prender, existe hora de soltar; é preciso atender a cultura (usar o local adequado), é preciso atender às demandas do corpo.

Mas novamente, se na hora não houver entrega, se os controles não se desligarem, haverá prisão de ventre, retenção urinária (ou aquela demora horrível no mictório do cinema, com gente atrás esperando) e, pior das inconveniências, eventuais explosões e escapes…

Com o orgasmo é a mesma coisa. Nas mulheres, a relação entrega/orgasmo é mais evidente. Mas com os homens, o mesmo se passa: o pênis tem ideias próprias, é preciso ouvi-lo, respeitá-lo; de alguma maneira, se entregar a seu comando. Querer impor-lhe comportamentos é receita garantida para sua rebeldia: ou não sobe, ou ejacula rápido, ou não ejacula de todo. Mas orgasmo que é bom, nada…





PLANO DIABÓLICO

 



A cliente me descreveu sua vida de filha única, com uma mãe superprotetora, super interferente, super obsessiva, atormentada por pensamentos catastróficos sobre o que poderia acontecer com sua menina (de 52 anos).

“Vou receitar antidepressivo”, disse eu.

“Mas eu não me sinto deprimida”, respondeu.

“Não é para você, é para sua mãe. Se aliviarmos os tormentos dela, vamos aliviar os seus”.

O sucesso foi tamanho que, tempos depois, recebi uma ligação da mãe: “Doutor, minha filha está viajando, o senhor poderia me passar uma receita daquelas vitaminas maravilhosas que eu tomo?”

Posso, claro. Pois tudo segue meu plano diabólico de fazer felizes meus clientes… e a mim também. 



segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

ESTRATÉGIAS SEXUAIS FEMININAS - NATUREZA HUMANA

 



Repetindo: em termos simplistas, existem interesses conflitantes entre homens e mulheres, quando o assunto é sexo. Como mulheres engravidam e homens não, elas querem casamento que lhes ajudem a criar filhos, e eles querem sexo sem pensar em filhos.

Essas são as bases para a “guerra dos sexos”: eles prometem casamento para obter sexo; elas prometem sexo para obter casamento.

Em termos caricaturais, são duas as estratégias sexuais femininas para atingir esses objetivos: a “Santa” e a “Puta”.

“Santa”: são mulheres de alto valor de acasalamento (em inglês, “mating value”), e sabem disso. São jovens, férteis, belas, gostosas. Esses itens são muito mais valiosos para uma mulher que para um homem, já que o tesão masculino é principalmente visual. Faz parte da injustiça e da desigualdade atroz com que a mãe natureza trata os sexos.

Além disso, têm boa situação social, recebem constantemente essas reafirmações vindas de seu entorno, estão portanto em situação de escolher os melhores parceiros. São “difíceis” de ser levadas para a cama por um homem, pois “eu não sou dessas”. Ele precisará apresentar-lhes altas credenciais de qualificação e sinais de comprometimento, de desejo de “algo mais sério” do que um simples encontro sexual. 

“Puta”: têm baixo valor de acasalamento, seja pela idade, pela aparência, pela condição social. Intuem, a partir daí, que não podem pedir alto preço para conceder acesso sexual aos homens, sobretudo aos de grande valor de mercado. 

Uma anedota misógina diz que as mulheres só diferem no preço cobrado pelo sexo: umas cobram casamento, outras “são dessas mulheres que só dizem sim; por uma coisa à toa, uma noitada boa, ou um corte de cetim”.

Sendo assim, cederão com facilidade ao desejo masculino de sexo, operando no atacado (enquanto a Santa opera no varejo, é muito mais seletiva). A mãe natureza se virá atendida, pois haverá filhos em ambas. Atualmente, a segunda conta com os testes de DNA, que podem, mesmo se não lhes dão marido, dar provedor para seus filhos.

Disclaimer: como toda caricatura, a acima desconsidera a complexidade, a variação, os desejos amorosos, as interações afetivas, o amor companheiro que pode surgir entre casais. O desenho caricato é um pontapé inicial, simplório, para se começar a pensar a partir das bases biológicas.

Lembrando: retratar a realidade não é defendê-la. A bactéria é natural; o antibiótico é totalmente antinatural. É preciso conhecer a realidade, assim como é preciso conhecer a bactéria que nos pode matar.






ESTRATÉGIAS SEXUAIS MASCULINAS - NATUREZA HUMANA

 



Em termos simplistas, existem interesses conflitantes entre homens e mulheres, quando o assunto é sexo. Como mulheres engravidam e homens não, elas querem casamento que lhes ajudem a criar filhos, e eles querem sexo sem pensar em filhos.

Essas são as bases para a “guerra dos sexos”: eles prometem casamento para obter sexo; elas prometem sexo para obter casamento.

Como resultado de uma soma de fatores – autoestima, aparência, crenças, desejos, formação, genética etc. – os homens desenvolverão duas principais estratégias de conquista sexual: o “papai” e o “cafajeste”. Não se trata de uma escolha consciente, mas de algo que vai crescendo neles sem que se deem conta. Abaixo, seguem caricaturas desses perfis.

1. “Papais”: costumam ter baixa autoestima sexual, têm a crença de que as mulheres são todas santas, que eles devem supô-las sem desejo, que apresentar seu desejo a elas será algo insultuoso, que elas precisam ser tratadas com reverência, que se ele as quer, deve oferecer muitas indenizações prévias ao crime de desejá-las, tais como promessa de casamento, de provimento, de proteção, de ter muitos filhos, de apresentá-la logo a amigos e família, de oferecer-lhes compromisso.

2. “Cafajestes”: dividem-se em dois grupos. 

a) Cafajeste do mal. Sofrem de donjuanismo compulsivo. Sua autoestima parece alta, mas não é. Têm o vício sadomasoquista do tipo fodão-merda, exibe sua fodonice para os amigos como forma de afirmação. Sua estratégia é enganadora, pois despreza as mulheres, há mesmo um componente misógino  de vingança contra elas. Ele as iludem com falsas promessas e juras de amor, mimetizando um “papai”, mas depois que as usam, eles as descartam e partem para a próxima.

b) Cafajeste do bem: autoestima sexual muito elevada, não se exibe, é discreto, não é predador. A beleza desse tipo é que ele respeita e admira as mulheres, gosta delas de verdade. A chave de seu sucesso é considerar que elas têm desejo sexual, sim, tal como ele, e que sua abordagem vai acrescentar felicidade à vida delas, pois vai permitir que desfrutem desse desejo sem culpa nem compromisso. Não prometem nada, nem elas pedem nada de volta, pois o encontro sexual acaba sendo uma troca justa, um jogo de ganha-ganha.

O último é um tipo raro, secretamente invejado por todos os homens que não o são, e secretamente (ou não tão secretamente) adorado pela imensa maioria das mulheres.




domingo, 30 de janeiro de 2022

MEDOS - O AMIGO PERGUNTA

 



“Qual o principal medo que nos atinge?”

Francisco Daudt: o medo de desamparo e seus derivados, como solidão, culpa, ridículo, sifudência, degredo, discriminação, má fama, rotulação, desqualificação, e em tempos de mídias sociais, cancelamento.

É incrível, mas esses medos acabam sendo maiores e tendo mais consequências psíquicas que os de ameaça física, doença e morte.


HÁ UM PREDADOR DENTRO DE NÓS; CUIDADO COM ELE

 


O risco das lutas justas é a vitória, e o que fazemos com ela.

Para o predador que existe em nós, a aspiração do oprimido é se tornar opressor. A inveja não ambiciona a igualdade, mas o privilégio. A luta contra a Ditadura militar não era por democracia, mas pela ditadura do proletariado.

A motivação predadora humana só aguarda meios e oportunidades.