De Bony Schachter: “Qual a diferença entre desejo e prazer?”
Francisco Daudt: Grosso modo, é a mesma que entre tensão e alívio. Mas… estamos falando da espécie humana e seu cérebro, a maior complexidade que existe, portanto é melhor ir somando as simplicidades, ir afinando o “grosso modo”.
Fome é necessidade; causa tensão, desconforto, incômodo, desprazer. Apetite é desejo; pode ser prazeroso sentir apetite… por um tempo. Se sua provocação se prolonga, a coisa começa a incomodar levemente, a funcionar como tensão a buscar ação que o satisfaça, mas ainda continua gostosa.
Mas o prazer só virá quando o objeto desse apetite estiver na boca. Dificilmente alguém chamará esse momento de alívio, tão gostoso ele é.
O ponto central está na ligação entre desejo e seu objeto. Se a fome/necessidade pode passar com mingau de aveia, o apetite/desejo quer sorvete de pitanga. Se um é simplório, o outro é complexo, específico.
O mesmo se passa com o tesão. A própria palavra é derivada de tensão, da busca de alívio. Como no binômio fome/apetite, ele vai do simplório desconfortável ao complexo, específico, gostoso. Do “eu tô na secura, qualquer buraco serve” ao “eu quero a sorte de um amor tranquilo, com sabor de fruta mordida”.
O que nos leva a Santo Agostinho: “É necessário um mínimo de bem-estar material, para a prática das virtudes”. Para se conhecer o desejo e a complexidade, é preciso sair da fome e da necessidade.