“Em que categoria de angústia mora o medo do ridículo?”
Francisco Daudt: Na da angústia de desamparo. É uma forma sutil, mas está lá.
Antes de mais nada, vamos defini-lo. O ridículo é o sentimento que o desmascaramento da pretensão descabida desperta. Ele é diferente do patético, que é a pretensão descabida escancarada. O ridículo é um momento; o patético é uma constante.
Para haver o ridículo é preciso que a pessoa exiba algo – ou algum comportamento – pretensioso, com intenção de assim se engrandecer. Mas o tiro sai pela culatra, pois a coisa se mostra nada engrandecedora, muito pelo contrário, e a pretensão sem base fica patente.
Aí vem a parte do desamparo: o mau julgamento, o repúdio, o riso que escarnece, a má fama que daí se segue, o abandono da plateia.
Para haver ridículo, portanto, é preciso que o desejo exibicionista esteja presente, somado à soberba e aos meios de ter-se o que exibir, bem como a um público-alvo especialmente crítico.
Disso resulta uma coisa curiosa: o medo do ridículo é comum nas camadas sociais mais altas e/ou mais educadas; quanto mais tempo de dinheiro e educação, mais riscos de ridículo haverá. Arrivistas e novos-ricos não temem o ridículo, pois ainda não formaram Superego para isso.
Sim, o ridículo pode bem ser uma arma do sadomasoquismo sutil, mas também é causador de um peculiar sintoma de neurose obsessiva: a lembrança constrangedora. Além da ressaca do mico da véspera, ela se dá por flashes de memória, provocados por associações de ideias, em que acontecimentos antigos (alguns, de décadas) fazem a pessoa querer cavar um buraco no chão para ali sumir, de tanta vergonha.
Como todo sintoma neurótico, esse também é muito esquisito…