domingo, 18 de julho de 2021

SEIS GRAUS DE SEPARAÇÃO

 


A teoria dos seis graus de separação originou-se a partir de um estudo científico desenvolvido pelo psicólogo Stanley Milgram[1], que criou a teoria de que, no mundo, são necessários no máximo seis laços de amizade para que duas pessoas quaisquer estejam ligadas.

Exemplo: eu conheci o engenheiro Eduardo Pederneiras (à esquerda), tio de um amigo de infância. Ele construiu a “Encantada”, casa de Santos Dumont em Petrópolis. E esteve presente à inauguração da Ponte Alexandre lll em Paris. Por causa disso, tenho dois graus de separação, tanto do Santos Dumont, quanto do Czar Nicolau ll, aquele que foi morto pelos bolcheviques.




“Por que mesmo pessoas jovens que ainda não procriaram se suicidam?” - O AMIGO PERGUNTA

 


O PONTO DE VISTA DOS GENES

“Por que mesmo pessoas jovens que ainda não procriaram se suicidam?”

Francisco Daudt: Porque a evolução criou um animal estranho, o único que sabe que vai morrer. O suicida não deseja morrer, ele deseja que seu sofrimento acabe, e vê a morte como um fim de seu tormento. O custo é alto, mas o benefício, a seus olhos, é maior.

Se o psicanalista puder mostrar-lhe alternativas que acabem com o sofrimento, ele quererá viver.






“Por que nós morremos?” - O AMIGO PERGUNTA


O PONTO DE VISTA DOS GENES

“Por que nós morremos?”

Francisco Daudt: Porque nos tornamos descartáveis, uma vez que os genes foram passados à geração seguinte.

Como as efêmeras (ephemeroptera, o bichinho voador), que duram apenas UM DIA em sua forma adulta, o suficiente para alçarem voo, acasalarem e desovarem. O ciclo completo (ovo, larva, pupa, adulta) leva um ano.

P.S. Infelizmente, mesmo que não tenhamos passado os genes adiante, a biologia nos programou para morrer do mesmo jeito…




 

BIOLOGIA É DESTINO? - O AMIGO PERGUNTA

 


“Quando Freud disse que biologia era destino, ele estava se referindo às diferenças anatômicas entre os sexos, certo?”

Francisco Daudt: Sim, e ao implícito medo da castração. Mas ameaçar meninos de castração saiu de moda – por causa do próprio Freud –, de modo que a metáfora meio que se perdeu.

Mas a psicologia evolucionista diz a mesma coisa, que a biologia molda de maneira desigual o cérebro de homens e mulheres, baseada em duas básicas diferenças:

1. Mulheres engravidam; homens não. Portanto, o homem pode engravidá-la e fugir; a mulher não. Mas as mulheres têm certeza de que o filho é delas, e os homens não.

2. O bebê humano é, por anos, totalmente dependente de cuidados.

Por causa dessas dessas singularidades biológicas, as mulheres precisarão de muito auxílio do pai para cuidar dos filhos (a nossa é a ÚNICA espécie de mamífero com investimento paterno)… e o pai precisa ser convencido de que o filho é dele, para fazer esse investimento.

Por isso, homens sentem pressão de se afirmar como fortes e machos; mulheres sentem pressão de se mostrar fiéis. Homens temem a fama de femininos; mulheres temem a fama de promíscuas.

Isso é o “fator biologia” em nossas vidas…




A IRRITABILIDADE COMO SINTOMA


Notou que anda com vontade de matar as pessoas? Está puxando briga com o pipoqueiro? O rosto esquenta a cada besteira que ouve? Eu sei, eu sei, atualmente, não faltam motivos para se irritar, mas…

Duas coisas devem ser consideradas como causa da irritabilidade fora de padrão: hipertensão e depressão. Parecem antíteses, mas uma é arterial e a outra psíquica. E não são excludentes, você pode ter as duas.

A irritabilidade é o sintoma mais despercebido dessas doenças. Já perdi pacientes na entrevista por causa da hipertensão arterial; depois da entrevista, usei neles meu aparelho de pressão… e lá estava: pressão alta. Eu lhes dizia que fossem ao médico para tratá-la; caso a irritabilidade se mantivesse, que voltassem a mim.

Poucos voltaram…



REFLEXIVOS E REATIVOS

 



Homer Simpson, depois de verificar no freezer que cinco embalagens de sorvete Napolitano estavam sem o chocolate (mas com o morango e o creme intactos), gritou: “Margie! Precisamos de mais Napolitano!”

“Não tire os outros por você; eles são diferentes”. Esta poderia ser a primeira lição a ser aprendida por um psicanalista.

Como funciona a mente de uma pessoa principalmente reativa, com muito pouca capacidade de reflexão? Como fazer para que ela possa desenvolver sua reflexividade embrionária?

O sapiens, apesar do nome, é principalmente reativo: condições-limite de sobrevivência sempre o levaram a correr antes e pensar depois. Essa coisa de sentar-se calmamente na Ágora e filosofar é coisa muito nova, de uns 2.400 anos para cá.

Mas a angústia – e a falta dela – é a chave que liga a reatividade: se não pressionarmos a pessoa, se respeitarmos seu tempo, abriremos espaço para que seu software reflexivo entre em ação.

Numa entrevista, me perguntaram se há chances para uma terceira via, “responda simplesmente sim ou não”. Disse-lhe, “responda simplesmente sim ou não: você continua batendo na sua mulher?” “Sim… quer dizer, não… err… mas eu nunca…”

Pois é, cara, tá vendo? A reatividade é simplória. Meu negócio é a complexidade. Não me pressione, e eu serei o que gosto de ser: reflexivo.



BISSEXUALIDADE - O AMIGO PERGUNTA

 


“Os bissexuais existem mesmo, ou são gays disfarçados?”

Francisco Daudt: Existem sim, mas não em orientações de mesma intensidade. O famoso Relatório Kinsey sobre sexualidade (EUA, 1948) descrevia o espectro de orientações sexuais de zero (hétero total) a seis (homo total), em que o tipo 3 seria o bissexual em partes iguais.

Acontece que Kinsey era um taxonomista obsessivo, e nunca iria se pautar por critérios subjetivos tais como desejo. Seu questionário perguntava: “já teve orgasmo com homem? Com mulher? Com que frequência”. Ora, quem respondeu que a frequência homem/mulher era idêntica foi registrado como tipo 3, o suposto bissexual perfeito.

O que se vê em consultório, o reino da pesquisa subjetiva, é que a pessoa nasce “falando uma língua”, e pode ou não, ao longo da vida, aprender uma “segunda língua”. Ora, um brasileiro que aprendeu inglês não deixa de ser brasileiro por isso.

Da mesma forma, haverá o nascido hétero que aprende a “falar homo”, e vice-versa. Sendo que o vice-versa é muito mais comum, já que as pressões sociais são todas para a pessoa aprender a “linguagem hétero”.

No entanto, mesmo na atividade eventual ou rara, um gay pode ter grande prazer em relações hétero, e vice-versa, o que jamais implicará uma “conversão”.

Como então se avalia a “língua nativa” de alguém? No caso dos homens, é fácil, basta que ele responda a pergunta: “para onde vão seus olhos?” Como o tesão masculino é principalmente visual, os olhos serão atraídos com mais frequência pela sua orientação principal.

A relevância da questão inicial é que, até recentemente (isso tem mudado, com a liberação dos costumes), o sintoma de dúvida obsessiva mais comum entre os homens era: “será que, no fundo, eu não sou gay?” Isso acontece porque os obsessivos são, digamos assim, obcecados com pureza: se em algum momento eles deram uma conferida no pau dos outros, “ah, então… aí tem coisa!”

De volta ao Kinsey, e referendado pelo consultório, o que acontece é que a possibilidade de desejo homoerótico num hétero de nascença é mais frequente do que se pensa, daí a homofobia ser tão comum: o medo de dentro se projeta para fora, sob a forma de ódio. Os héteros absolutos não são homofóbicos, a coisa não é nem um assunto, eles não estão nem aí…