domingo, 18 de julho de 2021

“Por que mesmo pessoas jovens que ainda não procriaram se suicidam?” - O AMIGO PERGUNTA

 


O PONTO DE VISTA DOS GENES

“Por que mesmo pessoas jovens que ainda não procriaram se suicidam?”

Francisco Daudt: Porque a evolução criou um animal estranho, o único que sabe que vai morrer. O suicida não deseja morrer, ele deseja que seu sofrimento acabe, e vê a morte como um fim de seu tormento. O custo é alto, mas o benefício, a seus olhos, é maior.

Se o psicanalista puder mostrar-lhe alternativas que acabem com o sofrimento, ele quererá viver.






“Por que nós morremos?” - O AMIGO PERGUNTA


O PONTO DE VISTA DOS GENES

“Por que nós morremos?”

Francisco Daudt: Porque nos tornamos descartáveis, uma vez que os genes foram passados à geração seguinte.

Como as efêmeras (ephemeroptera, o bichinho voador), que duram apenas UM DIA em sua forma adulta, o suficiente para alçarem voo, acasalarem e desovarem. O ciclo completo (ovo, larva, pupa, adulta) leva um ano.

P.S. Infelizmente, mesmo que não tenhamos passado os genes adiante, a biologia nos programou para morrer do mesmo jeito…




 

BIOLOGIA É DESTINO? - O AMIGO PERGUNTA

 


“Quando Freud disse que biologia era destino, ele estava se referindo às diferenças anatômicas entre os sexos, certo?”

Francisco Daudt: Sim, e ao implícito medo da castração. Mas ameaçar meninos de castração saiu de moda – por causa do próprio Freud –, de modo que a metáfora meio que se perdeu.

Mas a psicologia evolucionista diz a mesma coisa, que a biologia molda de maneira desigual o cérebro de homens e mulheres, baseada em duas básicas diferenças:

1. Mulheres engravidam; homens não. Portanto, o homem pode engravidá-la e fugir; a mulher não. Mas as mulheres têm certeza de que o filho é delas, e os homens não.

2. O bebê humano é, por anos, totalmente dependente de cuidados.

Por causa dessas dessas singularidades biológicas, as mulheres precisarão de muito auxílio do pai para cuidar dos filhos (a nossa é a ÚNICA espécie de mamífero com investimento paterno)… e o pai precisa ser convencido de que o filho é dele, para fazer esse investimento.

Por isso, homens sentem pressão de se afirmar como fortes e machos; mulheres sentem pressão de se mostrar fiéis. Homens temem a fama de femininos; mulheres temem a fama de promíscuas.

Isso é o “fator biologia” em nossas vidas…




A IRRITABILIDADE COMO SINTOMA


Notou que anda com vontade de matar as pessoas? Está puxando briga com o pipoqueiro? O rosto esquenta a cada besteira que ouve? Eu sei, eu sei, atualmente, não faltam motivos para se irritar, mas…

Duas coisas devem ser consideradas como causa da irritabilidade fora de padrão: hipertensão e depressão. Parecem antíteses, mas uma é arterial e a outra psíquica. E não são excludentes, você pode ter as duas.

A irritabilidade é o sintoma mais despercebido dessas doenças. Já perdi pacientes na entrevista por causa da hipertensão arterial; depois da entrevista, usei neles meu aparelho de pressão… e lá estava: pressão alta. Eu lhes dizia que fossem ao médico para tratá-la; caso a irritabilidade se mantivesse, que voltassem a mim.

Poucos voltaram…



REFLEXIVOS E REATIVOS

 



Homer Simpson, depois de verificar no freezer que cinco embalagens de sorvete Napolitano estavam sem o chocolate (mas com o morango e o creme intactos), gritou: “Margie! Precisamos de mais Napolitano!”

“Não tire os outros por você; eles são diferentes”. Esta poderia ser a primeira lição a ser aprendida por um psicanalista.

Como funciona a mente de uma pessoa principalmente reativa, com muito pouca capacidade de reflexão? Como fazer para que ela possa desenvolver sua reflexividade embrionária?

O sapiens, apesar do nome, é principalmente reativo: condições-limite de sobrevivência sempre o levaram a correr antes e pensar depois. Essa coisa de sentar-se calmamente na Ágora e filosofar é coisa muito nova, de uns 2.400 anos para cá.

Mas a angústia – e a falta dela – é a chave que liga a reatividade: se não pressionarmos a pessoa, se respeitarmos seu tempo, abriremos espaço para que seu software reflexivo entre em ação.

Numa entrevista, me perguntaram se há chances para uma terceira via, “responda simplesmente sim ou não”. Disse-lhe, “responda simplesmente sim ou não: você continua batendo na sua mulher?” “Sim… quer dizer, não… err… mas eu nunca…”

Pois é, cara, tá vendo? A reatividade é simplória. Meu negócio é a complexidade. Não me pressione, e eu serei o que gosto de ser: reflexivo.



BISSEXUALIDADE - O AMIGO PERGUNTA

 


“Os bissexuais existem mesmo, ou são gays disfarçados?”

Francisco Daudt: Existem sim, mas não em orientações de mesma intensidade. O famoso Relatório Kinsey sobre sexualidade (EUA, 1948) descrevia o espectro de orientações sexuais de zero (hétero total) a seis (homo total), em que o tipo 3 seria o bissexual em partes iguais.

Acontece que Kinsey era um taxonomista obsessivo, e nunca iria se pautar por critérios subjetivos tais como desejo. Seu questionário perguntava: “já teve orgasmo com homem? Com mulher? Com que frequência”. Ora, quem respondeu que a frequência homem/mulher era idêntica foi registrado como tipo 3, o suposto bissexual perfeito.

O que se vê em consultório, o reino da pesquisa subjetiva, é que a pessoa nasce “falando uma língua”, e pode ou não, ao longo da vida, aprender uma “segunda língua”. Ora, um brasileiro que aprendeu inglês não deixa de ser brasileiro por isso.

Da mesma forma, haverá o nascido hétero que aprende a “falar homo”, e vice-versa. Sendo que o vice-versa é muito mais comum, já que as pressões sociais são todas para a pessoa aprender a “linguagem hétero”.

No entanto, mesmo na atividade eventual ou rara, um gay pode ter grande prazer em relações hétero, e vice-versa, o que jamais implicará uma “conversão”.

Como então se avalia a “língua nativa” de alguém? No caso dos homens, é fácil, basta que ele responda a pergunta: “para onde vão seus olhos?” Como o tesão masculino é principalmente visual, os olhos serão atraídos com mais frequência pela sua orientação principal.

A relevância da questão inicial é que, até recentemente (isso tem mudado, com a liberação dos costumes), o sintoma de dúvida obsessiva mais comum entre os homens era: “será que, no fundo, eu não sou gay?” Isso acontece porque os obsessivos são, digamos assim, obcecados com pureza: se em algum momento eles deram uma conferida no pau dos outros, “ah, então… aí tem coisa!”

De volta ao Kinsey, e referendado pelo consultório, o que acontece é que a possibilidade de desejo homoerótico num hétero de nascença é mais frequente do que se pensa, daí a homofobia ser tão comum: o medo de dentro se projeta para fora, sob a forma de ódio. Os héteros absolutos não são homofóbicos, a coisa não é nem um assunto, eles não estão nem aí…




CIÊNCIAS EXATAS: HERANÇA ISLÂMICA?

 



Venho escutando esse papo de que devemos aos árabes a matemática, a astronomia e todas as ciências exatas, inclusive os algarismos que usamos se chamam "arábicos", e aposentaram os romanos por sua praticidade. Mas sempre desconfiei da história dele. Consultei meu pesquisador favorito, o advogado brasileiro Hamilton de Freitas, que mora no Porto, Portugal. Abaixo, o resultado de sua pesquisa:

"É besteirol. Os gregos e os hindus fizeram todo o trabalho. Os árabes, na expansão pós-Maomé, em meio aos saques, massacres e catequeses pela espada, pegaram obras, compilaram, traduziram para o árabe. A maioria dos intelectuais que fez esse tipo de descoberta e difusão foi perseguida. Nem os algarismos eles inventaram. Foram os hindus. Os algarismos que HOJE todo o mundo usa (MENOS OS ÁRABES) foi criado por um italiano: o Fibonacci..."