domingo, 13 de junho de 2021

DETERMINAÇÕES DO DESEJO

 



“O homem pode fazer o que quiser, mas não pode escolher o que vai querer”.
Schopenhauer (1788 – 1860).

“Humm, acho que hoje eu vou me apaixonar por um rinoceronte…”

Sinto muito, mas não rola. O desejo não se submete ao politicamente correto.

Não é só no nosso tesão que não mandamos, é também no nosso conceito de beleza. Ele está todo atrelado a outro desejo sinistro: o de eugenia.

Eugenia tem a má fama do nazismo, da busca pela “raça pura”, e outras coisas politicamente incorretas de dar calafrios.

Mas ela significa simplesmente “boa origem”, aquilo que queremos para nossos filhos: saúde e força, inteligência e garra, destreza e habilidade.

Por isso, somos levados a ver beleza em quem tem saúde, fertilidade, força, inteligência, garra, habilidade, poder, segurança, autoestima etc.

Essa gente nos atrai. Não sabemos, mas é a mãe natureza nos empurrando para uma procriação mais bem sucedida em termos de… mais procriação.

Dois exemplos:
1. Mucosas coradas e os batons. De vez em quando, tentam emplacar batons “modernos” em tons de verde ou de branco. Nunca colam. Os que permanecem são os da gama do vermelho (“não sou anêmica, viu?”).

2. Simetria facial. Não tem jeito, os assimétricos nos repugnarão sempre…



 
 A CRIAÇÃO ORIGINAL - A TEORIA DA MENTE SEGUNDO FREUD




DESEJO: GENÉRICO OU/E ESPECÍFICO


“Ah, o meu desejo está voltado para a pessoa, não para aparência.”

“Qualquer pessoa? Um idoso com Alzheimer?”

“Aí também não, meu negócio é mulher…”

“Bem, agora que você deixou 50% da população mundial de fora, vamos à próxima: menina de onze anos com obesidade mórbida?”

Depois de muita pergunta, fomos chegando mais próximo ao objeto “genérico” de seu desejo:

Mulher. Entre 18 e 50 (mas seria melhor entre 20 e 35). Gostosa (“meu negócio é cara, peito e bunda”). Capaz de conversar (“se for reflexiva e bem informada, melhor”). Classe média (“nem menininha do Country, nem riponga, nem caixeirinha da Sloper”). “Não pode fazer joguinhos, gosto de papo reto”…

A lista era longa, mas… “quem não tiver pecados que atire a primeira pedra”.

Assim é o desejo: ele sempre tem um perfil definido, pode perguntar para si mesmo, começando pela clássica “para onde vão seus olhos?”. Dá a impressão de que somos um monte ambulante de preconceitos e discriminações.

Bem, no tocante ao desejo, a impressão é correta: somos.



 
 A CRIAÇÃO ORIGINAL - A TEORIA DA MENTE SEGUNDO FREUD




 

PERDI MEU AMIGO: CARLOS SUSSEKIND (1933 - 2021)



Querido Carlos, parceiro e amigo de tantos anos, morreu no dia 25 do mês passado, depois de muito tempo sofrendo de Alzheimer. Quanta coisa boa poderia escrever sobre ele... A nossa parceria, na única ficção em que me aventurei, foi um divertimento só: como dois meninos, brincamos de escrever juntos.

Seu espírito de criança se manteve até dentro da doença: visitei-o pela última vez em março de 2018. Ele me reconheceu, e se manteve sorrindo para mim durante toda a visita.

Quando sua filha se ofereceu para fazer um café “e levantar os ânimos”, ouvi dele a única (e ultima) frase: “Não precisa. A presença do Chico é mais que suficiente para levantar qualquer ânimo”.

(Abaixo: a capa e contracapa de nosso livro, “O Autor Mente Muito”, e a foto no lançamento, há 20 anos).






 
 A CRIAÇÃO ORIGINAL - A TEORIA DA MENTE SEGUNDO FREUD




 

PADRE PEDÓFILO: UM EXERCÍCIO DE EMPATIA



“Toda ação humana resulta da soma de motivação, meios e oportunidades”.

A psicanálise busca entender a mente humana, não julgá-la.

Em seu livro “No Armário do Vaticano - poder, hipocrisia e homossexualidade”, Frédéric Martel comenta a maciça presença de homossexuais no clero católico, a absoluta ausência de gays assumidos entre eles, o grande número de casos de pedofilia homossexual (o índice de pedofilia hétero é irrelevante), e o declínio enorme das vocações sacerdotais a partir da maior aceitação social da homossexualidade (anos 70 em diante).

Ele examina o caso típico do rapazinho de uma cidadezinha do interior da Itália que se percebe homossexual. Sua motivação para o sacerdócio se inicia na paróquia da aldeia, daí para o seminário em outra cidade maior, no seu meio exclusivamente masculino, na circunstância da alta religiosidade do seu tempo.

Tudo isso permite um lugar social em que pode viver clandestinamente sua orientação, e pode escondê-la ao mesmo tempo. Sua iniciação sexual se dará com seus superiores: ele, um adolescente; eles, muito mais velhos. Num primeiro momento, ele é o objeto sexual do superior pedófilo.

Mais tarde, já formado padre, terá sob seu comando coroinhas e alunos muito jovens. Sua sexualidade continua clandestina e envergonhada. Ele a considera um pecado (os padres que quiseram assumir sua vida homoerótica são expulsos ou convidados a largar a batina).
Existe para ele conflito ético, tentação e transgressão. Algum tempo depois, a transgressão se cristaliza em vício. Já lhe é compulsiva. Ele se tornou um padre pedófilo.

A MOTIVAÇÃO para esse vício: o desejo homoerótico envergonhado.

O MEIO: a cumplicidade oculta de seus pares na Igreja, o celibato, o pecado.

A OPORTUNIDADE para praticá-lo: seus meninos subalternos, que o admiram e obedecem.

Um padre pedófilo não o é porque, “necessariamente, de sua homossexualidade decorre a pedofilia”, mas sim porque sua motivação homoerótica encontrou os meios e as oportunidades para que a tempestade perfeita se formasse.

Agradeço ao Elvis S. Correia e ao Cláudio Kuiven as perguntas que motivaram esta postagem; ao Facebook, o meio e a oportunidade.



 
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SELEÇÃO ADVERSA

 



Um jovem gay envergonhado busca uma profissão que lhe dê sustento, status, amparo social, e se possível o ponha em contato com grande número de possíveis parceiros sexuais (ou apetitosos petizes).

Descobre que o sacerdócio católico é perfeito: além de lhe proporcionar tudo isso, ainda proíbe o casamento, ou seja, ele pode permanecer solteiro sem dar pinta. Não é de espantar então o número de casos de pedofilia entre o clero.

O sacerdócio católico é um caso exemplar de seleção adversa: um critério de filtragem que sempre escolhe os piores.

O conceito de seleção adversa vem da economia, mas a ideia serve à perfeição para vários outros casos de “filtragem do mal”.

Naturalmente, a que mais me preocupa é a da carreira de psicanalista.

Se a psicanálise for apresentada como uma profissão pós-moderna onde tudo é relativo; não existem distinções entre verdadeiro e falso; nada vale nada, tudo vale nada e nada vale tudo; onde basta dominar um jargão incompreensível, que nem o próprio psicanalista entende (mas finge/está convencido/acha que entende); onde a meta é a “busca do inefável” (seja lá isso o que for); uma profissão que veio para confundir, não para explicar; em que existe um pacto perverso entre os que não entendem nada para fingir que entendem tudo...

...aí teremos a tempestade perfeita para selecionar os piores: a seleção adversa.

Eis porque vivo fazendo o marketing da transparência e da clareza. Quero seduzir aquele que cogita entrar na profissão para essa ideia simples e básica: ter direito de entender o que estuda; ter direito a dizer “não entendi”, quando for o caso; ter direito a não enrolar seu futuro cliente... e de não ser enrolado pelo seu atual analista.




 
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COMPLEXIDADE HUMANA

 



Ok, nós somos predadores, egoístas, agressivos, cruéis, a espécie mais perigosa do planeta, mas... também somos altruístas, amorosos e generosos.

Ou, apud Ortega y Gasset, somos nós e nossas circunstâncias: há as que favorecem umas tendências, há as que favorecem outras.

O livro abaixo já existe em português e fala das boas...





 
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POR QUE "CLIENTE", E NÃO "PACIENTE"?

 


Paciente, antônimo de agente, é aquele passivo de uma ação. Um faz, o outro recebe. O cirurgião opera; o paciente é operado.

Em psicanálise, o cliente (aquele para quem o clínico se inclina para entender) participa ativamente do processo: é dele que vêm as pecinhas do puzzle que o analista monta; é ele que corrige, se a montagem estiver errada. O cliente é a bússola ativa do psicanalista: é sempre ele que dá o rumo.



 
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