domingo, 9 de maio de 2021

PSICANÁLISE E FÉ . 2 - O AMIGO PERGUNTA

 


PSICANÁLISE E FÉ . 2

Há outras pistas para se saber se uma fé é amorosa ou é extensão do Superego: 

Uma fé amorosa não se diz superior aos outros, não produz “superioridade moral”, nunca diz “morte aos infiéis”. 

Uma fé amorosa não cultiva o sofrimento e a privação como meios de agradar a seu deus; não aposta na “nobreza do martírio”.

Uma fé amorosa não se orgulha de fazer de seus seguidores párias da humanidade.
Uma fé amorosa não fomenta o ódio.

Uma fé amorosa traz paz e acolhimento contagiosos, não divide amigos nem familiares por sua crença, não leva à guerra.

Enfim, a fé superegoica tende a ser uma forma de sadomasoquismo, da modalidade fodão/merda, em que o crente se une ao seu deus (não importa se místico ou mítico) para triunfar, vencer sobre os outros. 

Vencer; nunca convencer.


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FRANCISCO DAUDT

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 A CRIAÇÃO ORIGINAL - A TEORIA DA MENTE SEGUNDO FREUD




PSICANÁLISE E FÉ - O AMIGO PERGUNTA

 


PSICANÁLISE E FÉ

Rodrigo Vaz: “Se a crença em Deus é resultado de uma projeção externa do Superego, a análise bem sucedida leva ao ateísmo?”

Francisco Daudt: A complexidade da mente humana é tal que estamos aqui frente a duas questões possivelmente não excludentes: a fé e o Superego. 

A análise bem sucedida conduz a que valores, antes monopolizados pela tirania do Superego, sejam examinados pela pessoa e, se considerados aceitáveis, trazidos para a esfera do Eu (Ego). 

Assim, “Eu não sou honesto por medo do Superego, Eu/Ego sou honesto porque endosso esse valor”.

Igualmente, existirá a fé que deriva do desejo amoroso do Eu. Para além daquela que leva ao “temor a Deus”, esta sim, superegoica.


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FRANCISCO DAUDT

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“MÃE É MÃE”

 


“MÃE É MÃE”

Consulta: Obrigação de Gostar dos Pais
(Publicado em 01 de fevereiro de 2012)

PERGUNTA: “Vou lhe dizer uma coisa que tenho medo de dizer até para mim mesma: descobri que não gosto de minha mãe. Eu sou uma pessoa horrível?”

“Você é! Afinal, mãe é mãe, a pessoa que te presenteou com a vida e é merecedora de eterna devoção, não há nada de mais sagrado!”

Esqueça tudo o que escrevi até agora, pois foi apenas uma caricatura da mais poderosa religião que existe: o senso comum. Essa religião não tem nada escrito, como a bíblia, mas tem tudo aludido de forma sutil. E, por ser sutil, não tem como ser contra-argumentado.

Experimente dizer por aí que você não gosta da sua mãe e as pessoas não dirão nada. Apenas fecharão a cara, suspirarão, revirarão os olhos e… pronto: tudo está dito, e da pior maneira.

O que está dito é que você é horrível, que sua mãe é perfeita, que você está contrariando as leis de deus e da natureza ao mesmo tempo, e que você merece o fogo do inferno.

Mas, vamos pensar com racionalidade. A mãe natureza não está nem um pouco interessada em nossa felicidade, apenas em que procriemos. Por causa disso, pessoas, sem a menor vocação para pais, procriam à vontade.

Levitt, em seu “Freakonomics”, demonstrou que filhos indesejados se destinam à marginalidade, sejam dos pobres ou dos ricos, e que o direito de aborto desses filhos foi fundamental para a redução da criminalidade nos EUA.

Ou seja, você pode ter constatado a incompetência de sua mãe para a função de mãe, e não deve ter a menor culpa por isto.

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“Como a psicanálise vê a paixão?” - O AMIGO PERGUNTA

 


PAIXÃO

“Como a psicanálise vê a paixão?”

Francisco Daudt: Como um estado alterado da mente em que a pessoa pensa que está se relacionando com outra, mas – apesar de a outra realmente existir – a relação se dá com um ser ideal imaginado, com uma idealização do outro, uma espécie de “outro enfeitado” por todas as maravilhas que moram no nosso Superego.

Lembrando: Freud chamou o Superego de “O que está acima de mim” (“das Überich”). Esse software se construiu sobre uma base dos nossos programas inatos de sobrevivência: lá moram os nossos medos e tudo que nos ameaça; desde o escuro e as cobras até o abandono e o desamparo.

Mas também mora o “Ser ideal perfeito” que, desde esse pedestal, nos cobra permanentemente a estar à altura dele. O truque é: “seja perfeito e você estará imune às ameaças”, ou “as ameaças só existem porque você não é perfeito”.

Por isso é tão fácil para a humanidade imaginar um ser perfeito, todo-poderoso, onisciente, onipresente, completamente bom e justo, que até a morte vence. É o Superego externo, presente em todas as culturas: os deuses.

Esses deuses são o Salvador, o Redentor, aqueles que corrigirão todas as nossas misérias, nos protegerão de todos os nossos males. Basta... adorá-los em troca.

O que nos remete à paixão. Gosto muito de caricaturas, elas nos ajudam a entender coisas difíceis. Pois pego agora a paixão adolescente como caricatura de todas as paixões. Quando ela acontece, a pessoa é presa da agonia e do êxtase. Parece que todos os seus problemas acabaram, que você “chegou lá!” Não à toa, as musas dessa paixão são chamadas de “minha deusa”. “Ela é tudo para mim; eu serei tudo para ela”.

Essa é a parte do êxtase. A agonia começa com o significado original de paixão: sofrimento! O latim “passio” só permite essa tradução. Eis porque se diz “a paixão e morte de Nosso Senhor Jesus Cristo”. É isso: aquela paixão dele não tinha nada a ver com Maria Madalena...

Você imagina o tamanho da ameaça que é imaginar perder o objeto de sua paixão? Por isso o assunto dos adolescentes apaixonados é um só: ciúme/posse. Ciúmes sexuais e ciúmes de prestígio. Entendeu agora o “crime passional”?

A ironia final: o latim “passio” equivale ao grego “patos”, portanto “patologia” pode ser traduzido como “o estudo das paixões/sofrimentos”...

O próximo capítulo, portanto, contemplará os vários níveis da paixão: do normal ao doentio, ao patológico.

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terça-feira, 4 de maio de 2021

O FIM DA ANÁLISE - O AMIGO PERGUNTA

 



Clô Franklin: “Quando é que a análise termina? Como saber essa hora?”

Francisco Daudt: Ih, esse assunto já foi fonte de muita encrenca. Uma cliente me contou que, nos anos 70, teve que assinar um termo de responsabilidade para poder largar sua análise, pois o analista disse que ela corria risco de suicídio, se saísse.

Essa era uma arapuca perversa da psicanálise daquela época: não era incomum que as pessoas fizessem cinco sessões semanais. Ora, se ela largasse, o analista perderia uma fração substancial de seus proventos, donde – mesmo sem má intenção – ele poderia se seduzir com a ideia de que as análises deveriam ser intermináveis.

Sou favorável a que o analista desarme para si possíveis seduções de desonestidade/abuso de poder. Se ele tem muitos clientes de uma sessão por semana, por exemplo, não fará drama se o cliente quiser sair. O mesmo se aplica ao tempo de sessão: uma duração contratada de tantos minutos removerá a tentação de despachar logo o cliente.

Se o psicanalista tem claro para si que ele é um prestador de serviços, se ele faz diagnóstico e busca a cura, não ficará seduzido pela ideia da psicanálise como coisa monumental, que visa rever toda a vida do paciente, e levar anos com isso. Poderá aceitar que também há objetivos terapêuticos mais limitados (como o tão atual tratamento do luto, causado pela Covid).

De qualquer modo, tomei como política nunca, NUNCA objetar à vontade do cliente de interromper a análise. Entender, sim; objetar, não. Mesmo porque, cabe ao cliente dizer quando está satisfeito. Eu nunca “dou alta”, porque não dou “atestados de cura”, nem me concebo com esse poder.

Agora, entender sim, porque às vezes a vontade de interromper é uma expressão de que algum mal-estar com a análise se despertou no cliente, e ele não achou outra maneira de expressá-lo.

Mas eu quero que a saída do cliente seja simples, descomplicada. É claro que aquele exemplo lá no início tem uma função de antimodelo, de tanto horror a atitude do analista me despertou.

Mas não é só isso. É que eu não quero que a psicanálise seja algo de monumental. A monumentalidade pertence ao reino do Superego, daquilo que está “Acima de mim”, e o Superego faz parte do problema, não da solução. Portanto, um cliente que interrompe hoje, pode bem querer voltar amanhã, ele precisa saber que as portas estarão sempre abertas.

Além disso, é parte do meu trabalho a “transferência de tecnologia”, de modo que um cliente possa cumprir as duas etapas do tratamento inventado por Freud: a análise terminável (a de consultório), e aquela que ele será capaz de fazer sozinho, com sua introspecção.

Essa sim, interminável.



 
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F.O.M.O. E INSÔNIA

 



Gostei de terem inventado o conceito de F.O.M.O. (“Fear of missing out”), o medo de estar perdendo alguma coisa melhor, a compulsão de se divertir, de ter permanente excitação, uma praga contemporânea da geração mimada com vício de companhia e das mídias sociais.

Por que praga? Pelo cultivo do imediatismo como valor indiscutível, o prazer incessante como direito adquirido e inalienável.

“Abaixo o natal com data marcada; natal pode ser a qualquer hora! Nós queremos Monareta AGORA!”, assim cantava uma propaganda dos anos 80, anunciando a chegada dos “entitled” (“aqueles que têm direito”, um aperfeiçoamento dos “spoiled”, estragados”, mimados, em inglês).

Mas, qual é o problema de se querer prazer? Nenhum, em princípio. O problema está no tipo de prazer: há o prazer de alívio e o prazer de realização. O de alívio mais caricatural e extremado é heroína na veia. Dizem que não existe prazer maior e mais imediato. É pena que não se repita, pois depois do vício instalado (bastam duas doses, é como crack), a nova injeção só serve para tirar a síndrome de abstinência.

O prazer de realização requer investimento: conhecimento do próprio desejo, capacidade de reflexão e construção. Isto serve para uma relação amorosa, para encontrar uma profissão que dê sustento e seja bonita de fazer, tanto quanto para o prazer que tenho ao escrever este texto, já que ele é fruto de tudo o que enumerei antes.

O cultivo do imediatismo que leva ao F.O.M.O. emburrece, pois incapacita para a reflexão, já que ele é fruto de pura reação. Depois do pequeno barato que vem de se checar pela enésima vez as últimas postagens das mídias, vem a fissura de fazer mais uma, ver mais outra, numa aceleração que leva à... insônia.

O dormir requer ritual de desacelaração. Você já deve ter visto aquelas crianças hiperativas que não dormem, e sim desmaiam de exaustão. Pois o F.O.M.O. funciona igual. O dia não termina, pois “eu ainda posso ver mais uma coisa, fazer mais outra”.

Dificilmente alguém estará imune ao F.O.M.O., pois ele já se instalou no espírito do tempo atual. Minha intenção aqui é, como faz a psicanálise, tornar consciente as armadilhas que nos aprisionam, buscar liberdade, independência e autonomia.

E depois, dormir o sono dos justos...



 
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OS LIMITES DO “PODE”



Um bom corrimão de escada é uma tentação permanente para uma criança. Temos essa “questão” aqui em casa. Podíamos dizer aos nossos filhos: “Não, vocês não podem escorregar nele. É perigoso!”. E eles iam escorregar escondido.

Preferimos ensinar a escorregar com segurança. Primeiro, depois da curva de 180º, que é o ponto crítico. Depois, já bem treinadas, desde lá de cima.

Foi assim que o corrimão entrou no crescente rol dos direitos delas: os limites do “pode”.

Poxa, nós crescemos ouvindo que criança precisa de limites, e a lista enorme do que não podíamos e de nossos deveres. Ninguém nos informava sobre nossos direitos, a gente ia se virando por transgressões...

A psicanálise visa nos apossarmos do direito ao nosso desejo.

(Do meu livro “O Aprendiz do Desejo - a adolescência pela vida afora”, Editora 7Letras - Disponível em: https://7letras.com.br/livro/o-aprendiz-do-desejo/).



 
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