Francisco Daudt: Não veem. O problema é esse. Um obsessivo tem particular dificuldade para aceitar a ambivalência, principalmente em si, secundariamente nos outros.
Para o obsessivo, vale o poema de Cecília Meireles: “ou isso, ou aquilo”. Nunca os dois. Jamais um obsessivo dirá “eu gosto de fulano, mas também às vezes quero matá-lo”. Ou ele gosta, ou ele não gosta. O não gostar será visto como impureza do gostar.
A obsessividade é um traço genético que faz a criança ver sua raiva das pessoas importantes (pai e mãe, p.e.) como uma séria ameaça de retaliação/desamparo, e isso detona nela um processo de buscar pureza de sentimentos. A raiva precisa ser banida como se fosse uma imundice.
Eis o que leva os obsessivos a funcionarem sobre os eixos do controle e da pureza (sendo que o controle serve à pureza). Acertam os quadros na parede porque são puros, e aquele “desvio” os incomoda. São bons e arrumados porque não abrigam impurezas de sentimentos. Se consideram intimamente uma fraude porque sabem que o 100% puro é inatingível. Estão em permanente questionamento da intenção de seus atos porque buscam a eliminação do ruído, da impureza.
Por isso é tão difícil fazer com que o obsessivo aceite a ambivalência: sim, você gosta e não gosta, em tempos diferentes, e os dois sentimentos valem, ambos valem, “ambi + valência”.