(Publicado em 31 de janeiro de 2012)
Seu artigo na Folha foi político e não psicanalítico, como o Sr. explica isto?
Porque psicanalítico é sempre político, e vice-versa, às vezes. A política é mal entendida. Não é só o que os políticos fazem. Seu sentido vem da Grécia clássica, a correlação de poderes entre governantes e governados. Portanto, quando você repreende seu filho, isso é política. Não acredite que psicanalistas são apolíticos, ou “neutros”, como alguns gostam de dizer. Seus silêncios e resmungos são políticos (no sentido clássico). Seria redundante dizer que um psicanalista também é um cidadão, mas talvez necessário, pois um dos meus opositores neste assunto resolveu questionar a minha ética, achando que eu não poderia falar o que falei por ser psicanalista. É uma outra confusão, quanto ao sentido de ética. A ética básica é não causar dano injustificado. Pôr um criminoso na cadeia, é, portanto, ético, ainda que lhe cause dano. Antiéticas, na medicina (porque sou médico), são a imperícia, a imprudência e a negligência, as coisas de que acusei o governo. Se o governo quer se ater à frenagem do avião como causa do acidente, ele está sendo político, pois está tirando o assunto de um contexto muito mais amplo. Quer ocultar da opinião pública sua imperícia, imprudência e negligência, que podem causar aquele, este e vários outros acidentes. Como nas estradas. Como no futuro apagão energético. Como na educação, e assim por diante. Nada tenho do que me defender. Meu direito de cidadão é indiscutível, e não se deve discutir o indiscutível, porque ele se tornará discutível.