(Publicado em 31 de janeiro de 2012)
Conheço os seus livros e o Sr. diz que Freud foi sua maior influência. Mas Freud não castigou as mulheres ao dizer que o orgasmo a partir do clitóris era “imaturo”, e que o verdadeiro orgasmo, o “certo”, era o da penetração vaginal?
Cleuza Rodrigues
Prezada Cleuza,
Você tem razão, isso foi um inferno na vida das mulheres, que, ao contrário dos homens, acabam tendo o circuito cerebral para o orgasmo dificultado, pois que muitas não se masturbam e outras tantas o fazem raramente, enquanto 97% dos homens se masturbam com freqüência (suspeito que os outros 3% mintam), dado o fácil acesso a seus genitais.
Mas há o que dizer a favor de Freud nessa questão. Ele contemplava uma situação idealizada de uma mulher que teria prazer de entrega, de se sentir possuída, de abandonar-se de qualquer controle nos braços de seu homem forte, de boa “pegada” (como se diz hoje).
Ora, o primeiro feminismo criticou fortemente esse tipo de prazer, e fez de Freud um de seus demônios. A mulher deveria ser independente, “não precisar de homem”, dar conta de tudo sozinha (de seu prazer, inclusive). O problema é que, ao fazer isto, o feminismo incorreu no mesmo erro de Freud, às avessas: estabeleceu um prazer interditado às mulheres.
Hoje vejo um número grande de mulheres “independentes ressentidas”, bradando raivosas que “nenhum homem paga minhas contas!” Afinal, as coisas vêm se ajeitando. Não escuto mais patrulhas sobre o orgasmo feminino, nem freudianas, nem feministas. É provável que a discussão tenha feito com que todas as mulheres saíssem ganhando.