quarta-feira, 28 de agosto de 2024

TRATAMENTO DOS VÍCIOS COMPORTAMENTAIS

 


Um ponto central na terapia dos vícios comportamentais é que neles é muito difícil a abstinência. Enquanto no vício de substâncias a abstinência é essencial, no comportamental a abstinência não só é difícil quanto também é preciso separar o que o vício contém do desejo autêntico da pessoa, ainda que mal gerenciado.

P.ex., o sadomasoquismo contém raiva mal administrada, desviada para a vingança ou para o vitimismo, mas a raiva precisa de administração legítima, para alcançar seu objetivo inicial, que é fazer justiça.

Então, podemos ver o caminho da cura desses vícios: perceber o desejo legítimo que eles contêm, aprender a gerenciar esse desejo para seus objetivos autênticos (aqueles que não causam dano e atendem à pessoa), e promover uma transição gradual de desinvestimento no vício e investimento no desejo legítimo.

Como em todos os vícios, é preciso que a vida bacana os substitua, que ela entre no lugar deles.



terça-feira, 20 de agosto de 2024

FORMAS DE TESÃO

 


Tesão é o mesmo que “tensão” que busca alívio; ainda que esse termo seja só aplicado ao desejo erótico. Todos os nossos desejos produzem tensão que busca alívio. 

Mas quando se trata de interações pessoais, há várias camadas de complexidade no tesão, desde a básica que se resolve com a masturbação, até a mais complexa, que envolve interação afetiva, intelectual e erótica.

Esses três “tesões”, essas três interações possíveis podem falar umas com as outras, podem se contagiar, se comunicar, de forma que uma admiração intelectual pode despertar desejo afetivo, a interação afetiva pode despertar desejo erótico. 

Ou seja, o tesão não é necessariamente estanque, confinado apenas a uma das ligações humanas possíveis. 

Como exemplo, a principal forma de tesão erótico dos homens é visual, e ele pode impulsionar os encontros afetivos, românticos. 

Como outro exemplo, o tesão erótico nas mulheres costuma começar pela admiração, e será despertado quando elas virem desejo erótico na outra pessoa. 

Ou seja: tesões, desejos, sejam eles eróticos, afetivos ou intelectuais, contêm um potencial de contágio entre eles.


quinta-feira, 1 de agosto de 2024

A FALÁCIA DA SUBLIMAÇÃO

 


Para o aluno do Santo Inácio que fui, o conceito de sublimação tinha muita importância: ela era o meio pelo qual os padres “redirecionariam” seus instintos sexuais tidos como “baixos”, para um propósito “sublime, de amor e dedicação ao próximo.”

A sublimação não seria um mecanismo de defesa; a sublimação parece ter sido concebida como um expediente idealizado do Superego de “remover instintos baixos por meio de um reinvestimento de sua energia em direção a um propósito sublime, superior”, portanto ela contém em si um julgamento de valor. 

A sublimação foi descartada por Freud justamente por isso: ela é mais uma peça de propaganda, das idealizações do Superego, que um mecanismo psíquico regular.

Aliás, o descarte de Freud foi literal: depois de escrever sobre sublimação, ele olhou o texto, olhou outra vez… e atirou-o na lareira.



O PEGADOR E A MULHER-MARAVILHA

 


É importante lembrar que nem todo uso de um personagem construído em que nos metemos remete ao falso-self. 

De algum modo, todos nós usamos personagens diferentes em ambientes diferentes, o que mais se adapta a aquele ambiente, como diversas faces de nossa personalidade, como o “sociável”, o “engraçado” etc. 
Há mesmo personagens construídos que servem à nossa sobrevivência, mecanismo de defesa diferente do falso-self: uma pessoa com infância muito sofrida pode construir em si uma espécie de super-herói a quem nada afeta. 

O problema é ela se acostumar a esse personagem, não saber nada de seus desejos e manter pela vida afora circunstâncias adversas em que o personagem continue a ser necessário. Isso poderia se estabelecer como um vício de domínio-submissão difícil de largar.

Outro personagem defensivo é o “pegador”, uma espécie de defesa contra as inibições sexuais em que a pessoa se vê com autoestima baixa para se fazer desejado, mas seu “personagem pegador” supostamente não sabe o que é isso. 

O problema é que a pessoa pode se tornar dependente desse personagem, novamente como num vício de domínio-submissão, continuar pela vida sem saber seus próprios desejos, e se ver impotente quando quiser uma relação mais pessoal.