Há quase 500 anos, Étienne de La Boétie escreveu um ensaio (“O Discurso da Servidão Voluntária”) em que estabelece uma semelhança inédita entre indivíduo e sociedade.
Ele descreve como o sentir-se amparado é capaz de despertar o prazer da submissão, da entrega, seja sexual, seja social, política ou religiosa.
Essa foi uma das minhas primeiras fontes para compreensão de nossa relação com o Superego: como a dinâmica de domínio-submissão que mora em nós, adestrada desde a infância sob o poder concentrado de nossos pais, pode nos levar ao jogo externo de domínio-submissão em graus variados.
Esses jogos vão desde a brincadeira amorosa na cama, até a adesão viciosa a tiranias políticas em que somos, ora passivos, ora ativos, submissos ao tirano e tiranos com os outros.
Tudo isso em troca do amparo de nossos pares. Acho especialmente fascinante como isso pode ser operado: desde maneira alegre e saudável (no playground da cama, por exemplo), até a maneira viciosa e cruel, nas diversas formas de sadomasoquismo, sexual, interpessoal e social.
Sempre em variações percentuais. Nunca no “tudo ou nada”.
(Na imagem: La Boétie, quando escreveu o “Discurso”… aos 18 anos!)
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