Um relato curioso de consultório me fez ver que nem toda falta de empatia é resultado de narcisismo.
Ou, assim como existe o “narcisismo de tumulto mental” (a cabeça está tão alugada que não sobra espaço pra mais ninguém), o TDAH também pode promover esse tumulto, e incapacitar a pessoa para a empatia.
O relato, que vou chamar de “efeito Pac”:
“Pac" é o nome do cachorro que mora na casa do Gustavo, e que adora ele. Um dia eu fui levar o Gustavo na casa dele, ele só tinha que pegar uma coisa, de modo que eu fiquei embaixo do prédio, esperando no carro.
Pois ele demorou VINTE MINUTOS! Tive que interfonar pra saber o que tinha acontecido. Aí voltou. “O que houve?” Ele:
1. não tinha se dado conta da demora e ficou envergonhado quando eu disse que tinha ficado esperando por vinte minutos.
2. me explicou que quando ele entrou em casa, o Pac fez tanta festa pra ele, que ele ficou lá brincando… e se esqueceu de mim! Melhor dizendo: eu sumi de sua cabeça até que disseram pra ele que eu estava no interfone.”
Entendi que o “efeito Pac” não é nenhuma sacanagem, nem descaso, nem desinteresse, nem desamor: ele é parte do TDAH, que o TDAH atrapalha a empatia (ter o outro em mente, lembrar dele, se interessar por ele).
O TDAH aumenta por si só o índice de narcisismo da pessoa, sem que isso implique narcisismo genético, muito mais grave.
Mesmo porque o apenas portador de TDAH não tem a assinatura do narcisismo genético: a permanente necessidade de se afirmar como foda, por medo de ser merda.
Nenhum comentário:
Postar um comentário