quinta-feira, 27 de junho de 2024

O QUE É O DESEJO



Em termos gerais, o Desejo é o motor de nossa sobrevivência e da sobrevivência da espécie, sendo que nossa sobrevivência serve à sobrevivência da espécie, pela procriação.

O Desejo opera em nós através do desconforto em busca de conforto. Nascemos com três desejos básicos: de prazer; de justiça; de que as coisas façam sentido.

PRAZER: O desejo de prazer tem vários desconfortos – ou tensões – para nos mover em direção ao conforto: a fome, que busca o prazer da comida; a sede, busca o da bebida; o tesão, busca o do sexo; a dor, busca o alívio.

Pode parecer estranho chamar o desejo de desconforto, pois nós somos capazes de apreciar o desejo… se o desconforto for moderado, e se o conforto estiver acessível.

Por exemplo: a fome moderada chama-se “apetite”, e ele nos dá água na boca, por antecipação imaginada do prazer específico de uma comida gostosa. O mesmo se passa com a sede. O tesão sempre conta com a masturbação como alívio, mas ele pode bem se parecer com o apetite gostoso, caso o seu objeto esteja ao alcance. A dor pode ser gostosa como o apetite, e podemos até buscá-la, se o seu alívio estiver sob nosso controle (a sauna, o frio e o exercício fisico, por exemplo).

JUSTIÇA: o desejo de buscar justiça é movido pelo desconforto da raiva que a injustiça nos causa. A raiva é a resposta genética frente à injustiça, assim como a fome e a sede o são, frente às privações. 

Seu alívio pode ser tosco, como na vingança, p.ex., ou pode ser bem construído e eficiente, como nas negociações que levam em conta ambas as partes (promotoria e defesa, p.ex.). 

Também existe um prazer parecido com o apetite, na busca de justiça, quando a própria injustiça é provocada, e o fazer justiça se torna uma brincadeira sob nosso controle e alcance (como nos filmes de ação, nos jogos competitivos e nos videogames, p.ex.).

FAZER SENTIDO: seu desconforto é a perplexidade e a intriga. Seu conforto buscado serve à sobrevivência e a ter as coisas sob controle, inclusive a busca dos outros prazeres. 

O desconforto pode ser intenso, como por exemplo nas doenças, nas pragas, nas variações do clima, que só vieram a fazer sentido e nos dar certo controle através da ciência. 

Mas o desconforto moderado pode ser gostoso, pode ser uma brincadeira, como nas pesquisas, nos livros e filmes de investigação criminal, por exemplo.

Esses desejos conversam entre si, e toda essa conversa serve àquelas duas motivações iniciais: sobrevivência e à procriação.




 

terça-feira, 25 de junho de 2024

FORA DE QUE CAIXINHA?

 


“Pensar fora da caixinha” expressa capacidade criativa. Mas, de que caixinha se está falando? 

Refleti sobre isso quando um aluno me perguntou a que eu devia minha criatividade em psicanálise, e assim me dei conta da sorte que tive na vida: minha formação psicanalítica não se deu dentro de nenhuma caixinha, não fui filiado a nenhuma instituição.

A caixinha em questão se refere à tribo de amparo, aquela de que não se pode divergir sem risco de expulsão. Aquela que formata nosso Superego assustador: “olha lá, hein?” 

As crianças são criativas enquanto não são postas em caixinhas limitadoras e impositivas. Como exemplo, eu adorei ler livros desde criança, pois era um brinquedo só meu. 

Mais tarde, as escolas puseram os livros dentro da caixinha do dever de casa… e nunca mais as crianças leram, pois transgressão é uma triste forma de submissão às caixinhas…



quinta-feira, 20 de junho de 2024

OUVIDO NO CONSULTÓRIO

 



O cliente estava contando uma história para os amigos; seu pai, ainda que fora do grupo, escutava:

“Ele ficou encantado com a beleza da vizinha e botou na cabeça que iria se casar com ela. Marceneiro numa cidade pequena, se arrumou todo e foi fazer sua proposta. Mas a moça disse que era virgem, e que queria continuar assim. Ele disse que prometia não encostar nela, só queria que ela se casasse com ele. Ela aceitou, e eles se casaram”.

O pai, ao lado, comentou: “Mas que maluquice! Que cara bobo!”

A história continuou: “Acontece que uns tempos depois a moça ficou grávida… mas não do marido!” Comentário do pai: “Mas que sem-vergonha!” 

“O marido foi tirar satisfações com a mulher, mas ela jurou que não tinha transado com ninguém, que continuava virgem”. O marido aceitou as explicações e a apoiou na gravidez. E o pai: “Além de corno, otário! Mas que mulerzinha mau-caráter!”

“Pois é, a gravidez correu bem, o menino nasceu e cresceu com saúde, amparado pela mãe e pelo marceneiro, e acabou mundialmente famoso, pois aos 33 anos foi condenado à morte e morreu crucificado”.

Nessa hora, o pai, católico fervoroso, deu um gemido fundo de dor, como se tivesse levado uma facada no peito. No dia seguinte, o cliente foi convocado pela mãe, que lhe deu uma descompostura por ter blasfemado na casa deles, que aquilo era inaceitável etc.

O filho respondeu que não, que nunca havia proferido uma blasfêmia, sequer um adjetivo, que ele tinha contado os simples fatos, sem a aura do sagrado, como os locais de Nazaré teriam feito, na época.



quarta-feira, 19 de junho de 2024

ZONAS ERÓGENAS PARECIDAS

 


Uma surpresa de consultório foi a semelhança que descobri entre duas potenciais zonas erógenas: os canais vaginal e retal. Potenciais sim, pois depende da loteria genética se elas serão causadoras de prazer sensório.
Claro, tudo começou com as mulheres, pois elas já foram vistas pela psicanálise com desconfiança “por terem orgasmo imaturo” (orgasmo a partir do estímulo do clítoris, e não da penetração vaginal). 

Essa idiotice, se aplicada aos homens, iria chamá-los de imaturos “por terem orgasmo a partir da estimulação do pênis”. Sim, porque o pênis nada mais é do que o clitoris do feto, que se desenvolveu por causa da testosterona.

A seleção natural fez todos os homens terem orgasmos, pois a sobrevivência da humanidade depende do orgasmo masculino (por causa da procriação). Por isso eles treinam inevitavelmente desde cedo a masturbação, resultado daquele clitoris crescido e conspícuo.

Já as mulheres não. Nelas, a procriação não tem nada a ver com o orgasmo. Enquanto o orgasmo masculino é uma necessidade, o feminino é um luxo. Porque as únicas zonas erógenas obrigatórias são o pênis e o clitoris. As outras dependem da loteria genética (é lotérica mesmo, tem gente que tirou a sorte grande).

Mas, e o orgasmo vaginal? É loteria. O canal vaginal é um conjunto de músculo e mucosa que pode ser erógeno ou não. Haverá mulheres que terão orgasmo por pura penetração, e outras que precisarão do estímulo clitoriano durante a penetração. 

Mas… mesmo nas mulheres que não têm o canal vaginal como zona erógena, a penetração terá um papel psicológico e facilitador do orgasmo muito importante: a entrega, o desligamento dos controles e das cobranças: se o Superego não sair de cena, não haverá orgasmo. 

O que me levou ao outro achado: o canal retal como similar ao canal vaginal (estrutura muscular e mucosa/zona erógena ou não). Ouço o relato de homens, gays ou héteros, sobre o que descobriram sobre seus canais retais: que, como o canal vaginal das mulheres, o reto pode ser erógeno ou não. 
Que, como as mulheres, há homens que têm orgasmo anal sem estímulo do pênis (inclusive sem ereção!) e outros que usam a penetração anal como estímulo psicológico (entrega, desligamento de controles) para ter orgasmo através da masturbação do pênis.

E mais, como os orgasmos vaginais e retais se parecem: podem ser prolongados, mesmo intermináveis; podem produzir estremecimentos e contrações musculares pelo corpo todo; podem ser mais intensos do que qualquer orgasmo genital, frequentemente são descritos como o maior prazer que a pessoa já sentiu na vida.

Isso, é claro, se aplica a homens e a mulheres. Só que as mulheres exploram pouco seus potenciais anais… por desinteresse, delas ou dos parceiros, ou por restrições do Superego. 

E novamente aí se assemelham a muitos héteros. Em ambos os casos, os que se aventuraram nesse terreno descobriram-se eventualmente premiados na loteria…


terça-feira, 18 de junho de 2024

O AMIGO PERGUNTA : PSEUDOCIÊNCIA?

 



De Renato Capper : “O que você acha do que a Natália Pasternak disse sobre a psicanálise, que ela é uma pseudociência?”

Francisco Daudt: Acho que só temos a lhe agradecer: ela funcionou como o menino da fábula que disse “o rei está nu”. Ela nos fez um grande bem quando botou o dedo num assunto precioso para quem é psicanalista e tem aspirações iluministas e racionais: que tipo de conhecimento é a psicanálise?

Se há um reparo a fazer no que ela disse, seria que a psicanálise não é, nem pode ser (pelo menos por enquanto) uma ciência. Eu quero que ela seja uma protociência, um conhecimento que ambiciona ser científico, mas ainda não pode ser, dada a complexidade da mente humana.

Algo como um dia foi a alquimia, a primeira tentativa de abordar aquilo que se tornou a química: ainda muito em fase de observação, experimentação e hipóteses, algumas (ou muitas) viagens na maionese, algumas (ou muitas) embriaguezes delirantes, mas… com alguns (ou poucos) pesquisadores - nos quais me incluo - com genuíno desejo iluminista de razão, de lógica, e da humildade própria ao espírito científico: ainda não sei se o que observo é verdadeiro ou falso, mas quero muito saber, quero muito testar, quero muito dar a cara a tapa.

Esse “dar a cara a tapa” é o princípio de Karl Popper, meu filósofo da ciência predileto. Ele dizia que, no método científico, as hipóteses precisam estar vulneráveis à refutação, a que lhes apontem os erros: se elas forem sobrevivendo a essa peneira, têm chances de ser verdadeiras, mas… continuarão como alvo de questionamento, nunca se afirmarão como verdades absolutas.

Ele foi o legado de Freud: ele, no final da vida, foi deixando de lado o “Freud explica” em favor do “Freud investiga”; deixando de lado as interpretações para, como diz o título de um de seus últimos trabalhos, “Construções em análise”.




quarta-feira, 12 de junho de 2024

EFEITO PAC - QUANDO A FALTA DE EMPATIA VEM DO TDAH

 


Um relato curioso de consultório me fez ver que nem toda falta de empatia é resultado de narcisismo. 

Ou, assim como existe o “narcisismo de tumulto mental” (a cabeça está tão alugada que não sobra espaço pra mais ninguém), o TDAH também pode promover esse tumulto, e incapacitar a pessoa para a empatia.

O relato, que vou chamar de “efeito Pac”:

“Pac" é o nome do cachorro que mora na casa do Gustavo, e que adora ele. Um dia eu fui levar o Gustavo na casa dele, ele só tinha que pegar uma coisa, de modo que eu fiquei embaixo do prédio, esperando no carro. 

Pois ele demorou VINTE MINUTOS! Tive que interfonar pra saber o que tinha acontecido. Aí voltou. “O que houve?” Ele:

1. não tinha se dado conta da demora e ficou envergonhado quando eu disse que tinha ficado esperando por vinte minutos. 

2. me explicou que quando ele entrou em casa, o Pac fez tanta festa pra ele, que ele ficou lá brincando… e se esqueceu de mim! Melhor dizendo: eu sumi de sua cabeça até que disseram pra ele que eu estava no interfone.”

Entendi que o “efeito Pac” não é nenhuma sacanagem, nem descaso, nem desinteresse, nem desamor: ele é parte do TDAH, que o TDAH atrapalha a empatia (ter o outro em mente, lembrar dele, se interessar por ele). 
O TDAH aumenta por si só o índice de narcisismo da pessoa, sem que isso implique narcisismo genético, muito mais grave. 

Mesmo porque o apenas portador de TDAH não tem a assinatura do narcisismo genético: a permanente necessidade de se afirmar como foda, por medo de ser merda.



terça-feira, 11 de junho de 2024

O AMIGO PERGUNTA AO DR.DAUDT AI - CLASSIC (cita os livros consultados)

 



“Que papel a psicologia evolucionista desempenha, na psicanálise?”

Dr Daudt AI Classic

Francisco Daudt discute o papel da psicologia evolucionista na psicanálise em "O amigo pergunta". Ele argumenta que a psicologia evolucionista estuda os comportamentos que herdamos de nossos ancestrais, comportamentos que "já vêm com a máquina" devido à seleção natural. Esses comportamentos são fundamentais para a sobrevivência e reprodução da espécie.

Daudt acredita que a psicologia evolucionista e a psicanálise se complementam: enquanto a psicologia evolucionista contempla a espécie, a psicanálise contempla o indivíduo. Ele defende que não é possível entender completamente o indivíduo sem considerar as forças biológicas da espécie que nele operam. 

Por exemplo, a necessidade de amparo, que é uma característica biológica fundamental dos seres humanos, influencia profundamente nosso comportamento e nossas interações sociais.

Ele critica a visão culturalista que considera o ser humano como uma "folha em branco" onde a cultura escreve tudo, ignorando as influências biológicas. 

Para Daudt, a integração da psicologia evolucionista na psicanálise é essencial para uma compreensão mais completa e precisa do comportamento humano.

Isso faz sentido pra você?



EXPERIMENTE: www.drdaudtai.com






TIRAR O DRAMA FAZ PARTE DA CURA

 


Todas as orientações terapêuticas começam por tirar ou relativizar o drama. O fato de se fazer diagnóstico do problema é o meio principal de se tirar o drama, pois se a aflição de origem desconhecida é dramática, a aflição que se entende e que se pode curar não é dramática.





IT’S ALIVE!!!!


Agora o Beto fala! A face “humana” do Dr.DaudtAI, o Beto, agora não só responde por escrito. Ele fala! O usuário não precisa escrever texto, o usuário fala com ele, e ele responde com voz.

Quando entrar no aplicativo, vá às barras horizontais acima e a direita da tela e clique nelas. Vão abrir três opções: Classic (pesquisa teórica); Contemporary (consultas profissionais) e Beto AI (conversa). Clique no Beto e pode começar a conversar.


EXPERIMENTE: www.drdaudtai.com