Não se trata de fé, ou de crenças religiosas, mas de como minha cabeça de criança, formado que fui por família católica fervorosa, entendeu esse personagem meio esquecido e pouco falado: Deus Pai.
Ele tudo via. Sua representação mais conhecida era a de um enorme olho dentro de um triângulo. Não adiantava tentar esconder nada dele, nem mesmo nossos mais íntimos pensamentos.
Ele não só via, mas julgava com severidade, através de seus dez mandamentos impossíveis de serem cumpridos ao pé da letra (por exemplo:“amar a Deus sobre todas as coisas”? Mais que a meu pai e mãe? Eu deveria sentir culpa a cada onda de amor por eles, sem nenhuma correspondente ao Criador?).
Se houvesse transgressão por “PENSAMENTOS, palavras, obras e omissão, o destino era um só: a eternidade no fogo do inferno! Ele mesmo havia expulso Adão e Eva do paraíso. Não só os dois, mas todos os seus descendentes, nós, os “degredados filhos de Eva”. Não havia dosimetria de pena comparável em toda a história humana.
Pois quando fui entendendo da mente humana, vi uma semelhança enorme entre o Deus Pai e o Superego:
1. Ambos estão “acima de mim” (Superego significa exatamente isso, em latim).
2. Ambos “tudo veem”, até nossos mais íntimos pensamentos.
3. Ambos tudo julgam com a pena que nos causa a maior angústia: o desamparo, o degredo, a expulsão do paraíso, essa que é o verdadeiro inferno na Terra.
4. Ambos causam culpa, “minha culpa, minha culpa, minha máxima culpa” em caso de transgressão das tais leis.
Não admira que fosse tão fácil e compreensível, para o menino que fui, acreditar na existência desse Deus Pai: ele morava em minha cabeça… como meu Superego.
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