Renata Longhi é uma psicóloga que vem fazendo um trabalho admirável com clientes do transtorno do espectro autista (TEA). Ela os atende no lugar onde vivem e interagem, em suas casas, e assim pode dar assistência não só a eles, mas às pessoas que os cercam. É um trabalho lindo!
Começo aqui a transcrever a entrevista que fiz com ela, que me transportou para dentro de suas vivências, de mãe e de terapeuta, o melhor instrumento da empatia.
Francisco Daudt: Renata, foi com você que aprendi as sutilezas dos graus mais leves do espectro autista, o grau 1 (leve) e o grau 2(moderado). Queria que você contasse para nossos amigos como se tornou a terapeuta que é, a partir da sua trajetória com seu filho Gabriel, pode ser?
Renata Longhi: Sim. Sou formada em psicologia e administração de empresas. Ao longo desses anos, desenvolvi minha carreira e realizei o sonho de ser mãe de filhos incríveis: Julia, Carolina, Gabriel e Luiza.
Com um ano e oito meses, o Gabriel começou a falar algumas palavras como "mama", "papa", mas logo parou de falar e começou a apontar para o que ele queria. Além disso, passou a sentir sensibilidade com barulho e luz. Decidi buscar ajuda médica, pois percebi alguma coisa diferente nele.
Apesar de ter estudado sobre autismo na faculdade de psicologia, nunca imaginei que poderia ter um caso na minha propria família. Na década de 90 era 1 caso pra cada 2.500 crianças. Hoje, segundo o CID americano, essa estatística é de 1 pra cada 36!
Na consulta médica, o neuropediatra escreveu em uma folha de papel "autismo" e disse que era esse o diagnóstico do Gabriel e sugeriu que eu me informasse no Google sobre o assunto.
Foi o que fiz. Passava noites em claro pesquisando na internet sobre causas, tratamentos, qualidade de vida no autismo, dietas, etc. Vi muitas terapias. A que realmente me chamou atenção foi o Son-Rise, que é voltada para o amor incondicional a essa criança: o olhar carinhoso, a aceitação, o respeito, e sua interação ao mundo dela.
O Son-Rise (mistura de “alvorecer” e “criação do filho”) se baseia na ideia de que a criança esta bem no "mundo dela"; é a gente que quer traze-la para o "nosso mundo". Era justamente isso que procurava, pois, que mal o amor poderia fazer para o meu filho?
A partir dai, fui para os Estados Unidos fazer uma imersão no “Autism Center of America” e me dediquei integralmente ao programa Son-Rise. Ainda voltei mais 2 vezes para me reciclar, e na terceira inclusive o Gabriel foi junto.
Enfim, montei uma equipe com pessoas que estavam genuinamente interessadas em ajudar o Gabriel: avôs e avós, madrinha, tias, amigas, todos eram muito bem-vindos ali. Eu ensinava pra eles todo o processo e técnicas dessa terapia. Todos os dias cada uma dessas pessoas envolvidas no processo ficava 2 horas com o Gabriel, era uma média de 6 horas por dia de terapia.
Como era incrível ver dia apos dia ele interagindo e avançando em seu desenvolvimento. Quando ele tinha 5 anos de idade, fomos morar em outros países e levei essa terapia para todos os lugares em que moramos, ensinando para outras pessoas também.
Por ser uma terapia em que você pode fazer na sua própria casa, ela se torna muito acessível. Hoje o Gabriel tem 14 anos, estuda em uma escola regular, com ajuda de uma mediadora, mas semana passada já foi na coordenação dizer que nao fazia mais sentido ter apoio, afinal “ele era um estudante igual aos outros”.
E sim, ele hoje é minha fonte de felicidade: seus pequenos atos que o fazem “atípico“ simplesmente me fascinam, como nao usar “shampoo pra cabelo seco”, pois cabelo só se lava molhado, ou seus horários cronometrados: almoço as 13.30h, banho as 21.21h.
E assim continuo fascinada e encantada pelo mundo do autismo.
(Na foto de sua página no Instagram, Renata e Gabriel).
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