Quando um processo de psicanálise não funciona, digo aos alunos: os limites são sempre do analista. “Vocês foram contratados para prestar serviços. Ou conseguem, ou não conseguem. Não há culpados; há a constatação de suas limitações”.
Exemplo: nos anos 1980, o cliente argentino trapaceava no pagamento. Era época da inflação, e sua bolsa do CNPQ era corrigida mensalmente. Ele dizia, “este mês a correção foi de 45%”. Acontece que eu tinha como cliente um outro bolsista que me dizia, “foi 60%”.
Eu verrumava a cabeça para achar um meio não acusatório (para não endossar o Superego dele) de falar do assunto, para poder investigar o que o levava a isso, e não conseguia.
Finalmente, ele disse que sua bolsa ia acabar e ele ia ficar sem dinheiro. “Mas você tem um apartamento em Buenos Aires emprestado de graça para um amigo; agora que você precisa, não pode dizer para ele pagar aluguel?”
Assim foi feito, e ele passou a receber US$ 500, por mês. “Então você pode me pagar $ 15, por sessão?” (Sim, só para ver o quanto ele pagava antes).
Voltou na próxima, carrancudo: “Acho que vou mudar de analista. Você usou de informação privilegiada para saber o quanto eu ganho e me ‘extorquir’ no preço!”
Respondi: “Acho que você tem razão, deve mesmo mudar de analista. Eu tenho minhas limitações e não sei como te ajudar”.
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