sexta-feira, 11 de agosto de 2023

NOSSA RELAÇÃO COM O SUPEREGO - parte 5

 


Agora que ele já está instalado, vamos ver como se dão as relações entre nós e o Superego, entre nosso Ego e o Superego.

O Superego tem essas duas faces: o Ideal inatingível (consequência dos modelos de perfeição impostos, tipo, “você tem que ser assim!”) e o Juiz cruel (consequência dos antimodelos absorvidos, tipo, “tudo, menos ser assim").

O poder do Superego, sua arma de imposição, é a angústia de desamparo: “seja assim, senão…”; “não seja assado, senão…” É curioso, mas as reticências depois do “senão” são mais ameaçadoras do que qualquer ameaça explícita: o imaginado é sempre mais temível que o conhecido.

Na prática, nossa relação mais comum (e mais frustrante) com a face Ideal do Superego é a paixão: como é possível que, a partir de uma aparência, de pouquíssima informação, passemos a acreditar ter encontrado nossa cara metade, a pessoa que faltava para nossa felicidade? Os italianos chamam de “il fulmine” (“o raio”), de tão rápida é essa “iluminação”: não podendo ser o Ideal, vislumbramos a possibilidade de tê-lo, externamente: aquela pessoa “vai nos completar”.

É claro que ela dura pouco…, a paixão, mas nos dizemos que foi apenas uma questão de pessoa errada. Ou seja, a ilusão e o Ideal seguem intocados.

Ah, e se não conseguimos a abordagem certa que nos levaria à realização do encontro, é bem capaz de o Superego-juiz nos dizer que isso se deu porque somos uns merdas…

A outra consequência prática se refere à face Juiz cruel: as angústias por desejo transgressor. Mas, transgressor de quê? Ah, daquelas leis idiotas que o Superego tem, como “olha, que a masturbação vai te levar para o inferno!”

Você dirá que isso é uma caricatura, e eu direi que sim: a vantagem da caricatura é sintetizar de maneira cômica a realidade.

Todas as leis do Superego são idiotas: ora pelo conteúdo (o inferno para a masturbação); ora pela forma (ser honesto por medo, e não por virtude).

As angústias pelo desejo transgressor (principalmente, os sexuais e os de justiça/raiva) levam ao desenvolvimento dos mecanismos de defesa que combatem a angústia: as negações; formações reativas; neuroses; vícios e psicoses.

Levam às doenças psíquicas.




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