domingo, 21 de maio de 2023

DEUSES E DEMÔNIOS - O AMIGO PERGUNTA

 



De Gilson Gusmão: “É possível rezar a Deus e a Lúcifer? Ou ambos são a expressão do mais profundo âmago da pessoa humana?”

Francisco Daudt: A devoção aos deuses é mais clara e declarada que aquela dirigida aos demônios. E veja que não estou tratando de fés particulares, e sim dos mecanismos da mente humana.

Como já disse, as ficções religiosas partilhadas trazem consolo e amparo, e podem fazer parte da variedade de saúdes mentais. Um psicanalista que se propuser a ditar como é a saúde mental “certa” estará pautado pelo Superego, e essa psicanálise não me serve.

Mas… (e em termos humanos sempre há um “mas”) o desejo de poder e proeminência que a espécie tem - são nossos chamarizes sexuais - é bem capaz de criar tanto cultos demoníacos, quanto religiões que clamam pela “morte aos infiéis”: é nossa tendência inata à tirania.

Há duas ficções partilhadas que muito aprecio, e a favor das quais argumento: o indivíduo e a democracia. Esta última tem só 2.400 anos. O indivíduo é mais jovem, é pós-iluminista, só tem 500 anos.

Mas para mim, apesar de serem tão “antinaturais” quanto o antibiótico (esse tem o agravante de ser “contra a vida”… das bactérias), indivíduo e democracia formam um par indissolúvel: ele tem direito de voz e voto. Nas tiranias, as massas devem ser avassaladas e assim caladas.

Então, deuses e demônios podem morar “no mais profundo âmago” do sapiens; podem ser “seus institutos mais primitivos”, como a tirania o é.

Mas eles não são a “nossa verdade”, nem “aquilo que está por trás” de todos. São apenas uma faceta de nossa complexidade, e que, assim como aprendemos a falar, eles podem ser trazidos à consciência, para participar com suas vozes do parlamento mental que proponho entre Ego, Id e Superego.

“Participar”, e não “imperar”.




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