O luto de gente viva costuma acontecer como efeito dos rompimentos amorosos, amizades que terminam, parentes que se afastam, fins sempre um tanto incertos se comparados ao luto da morte, em que você vê o defunto.
Mesmo nos da morte, se ela não foi constatada (como no caso dos desaparecidos, vide as Mães da Praça de Maio), a incerteza assombra, a esperança atormenta e não dá o descanso da paz.
Esperança, esse é o nome do perturbador que prolonga o luto: um vaivém de dor e alento que pode se estender por anos.
O mesmo ocorre em relação a parentes afetados por Alzheimer e outras demências. Flashes de lucidez, ainda que fugazes e decrescentes, dão a impressão de que a pessoa ainda está ali. Dão esperança… e dor. E também podem fazer o luto se arrastar por anos.
Recentemente, um outro grupo que produz o mesmo efeito me chamou a atenção: os que vão sumindo, morrendo como pessoas, dominados pelos vícios.
Claro, os viciados em crack são a caricatura dessa situação. Mas alcoólatras e - incrível - sadomasoquistas fodão/merda (vícios associados são comuns) também podem ir sumindo como pessoas, devorados por sua doença incurável.
Incurável? A esperança diz reiteradamente que não, que eles têm chances de sair dali. Há neles também flashes de identidade, volta e meia parece que a pessoa ainda está lá. É assim que o luto se arrasta, numa curva declinante que parece infindável.
E não há o que fazer senão manter essa conversa interna, dar-lhes o apoio possível… mais para se ter a sensação de que tudo que era possível foi feito, e assim evitar o sentimento de culpa pelo abandono.
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