Fehl + leistung = falho, errado + realização, ato = ato falho
Ele estava na fila de pêsames do velório da sogra odiada do amigo. Quando chegou sua vez, abraçou-o e disse: “Meus parabén… opa, quer dizer, meus sentimentos!”
Não foi de sacanagem, apenas saiu assim. Depois do acontecido, ele - muito envergonhado - se deu conta de que, desde de que soube da morte, vinha tentando não pensar naquele ódio que o amigo tinha.
Ao mesmo tempo, se condoía de verdade pela perda que a filha havia sofrido, não houve hesitação nem erro quando ele a abraçou.
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Assim se formam os atos falhos (lapsos de fala, esquecimentos, perda de objetos, erros sintomáticos do dia-a-dia): por causa da ambivalência.
“Ambivalência” é quando se tem sentimentos opostos em relação a alguém ou a alguma coisa, e ambos valem (ambi + valem). No caso dos atos falhos, um dos sentimentos é bem aceito, mas o outro não (tristeza pela filha x a noção sobre o ódio do amigo).
A repressão do “mau sentimento” se manifesta na esquisitice do ato falho, essa foi a descoberta de Freud (em “A psicopatologia da vida cotidiana”). Todos os sintomas neuróticos têm isso em comum: a esquisitice, vide p.ex. a fobia de baratas.
PS: Sobre o “falar língua de gente”, Ernest Jones, o primeiro tradutor de Freud para a língua inglesa, nos fez o desfavor de inventar o termo grego “parapraxia” para nomear o “ato falho”… (soava mais médico, sabe?).
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