De Claudio Kuyven: “Você disse que o diagnóstico é a base do tratamento psicanalítico. Como assim? Se o ortopedista faz um diagnóstico, ele indica um procedimento. O procedimento é o que trata. Mas e em psicanálise?”
Francisco Daudt: Sim, em psicanálise, o diagnóstico é o tratamento. O que acontece é que a psicanálise faz diagnóstico o tempo todo. Ela é, na verdade, uma constante investigação em busca de conhecimento que atravesse a complexidade da mente. Diagnóstico vem do grego: dia = através + gnosis = conhecimento.
E é conhecimento, é diagnóstico, da doença e da saúde. Saber-se da saude do cliente é crucial; quando a doença é vício, p.ex: um casal tem uma ligação sadomasoquista, mas… também tem um vínculo amoroso.
Quando você faz o diagnóstico de que o vício rouba o potencial amoroso deles, e que o vício é resultado de algo não escolhido, mas absorvido do ambiente familiar de origem, neste momento você aciona a mais poderosa arma de cura da psicanálise: nosso senso inato de JUSTIÇA.
Ao se perceber joguete de sua história (o complexo de Édipo é isso), o cliente se mobiliza para ser dono de sua vida, para trilhar o caminho que mais lhe convém, para se libertar de um passado que lhe atrapalha os desejos mais autênticos. A psicanálise serve a isso: busca de justiça.
O diagnóstico da doença aciona a vontade de se livrar de uma prisão injusta; o diagnóstico da saúde é, essencialmente, o conhecimento de seu desejo mais autêntico, que ele buscará realizar. Ou você acha que se matar cheirando cocaína é expressão do desejo autêntico de alguém?
É por isso que a cura, em psicanálise, vem do constante diagnóstico. Cabe ao psicanalista transferir tecnologia para o cliente, de modo a que ele continue a se conhecer (a se diagnosticar) pela vida afora.
É a isso que Freud chamou de “análise interminável”.
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