O conceito de transferência, em psicanálise, parece misterioso mas é simples: trata-se de transferir a um estímulo sensorial (algo que foi visto, ouvido ou sentido) um arquivo de nossa memória, que passa a dar um significado ao estímulo.
Quando você lê BALDE, aqui, transfere para essas manchinhas pretas na tela um arquivo de sua memória, e elas ganham um significado… de balde. O processo é tão automático, que você nem percebe que ele se deu. Se você lesse EIMER, não haveria arquivos de memória para transferir, a coisa não significaria nada (Eimer é balde em alemão).
Pois eu e minha irmã, quando crianças, fizemos uma brincadeira curiosa: ficamos falando “balde”, um para o outro, como se fosse uma conversa de palavra única, por uns cinco minutos… ao fim dos quais, já não sabíamos mais o que era balde. Virou um ruído. Tínhamos desconectado o automatismo da transferência! Claro, se alguém nos perguntasse o que era balde, iríamos responder. Mas sem o automático, íamos ter que pensar…
A transferência neurótica (reação exagerada frente a um estímulo banal) é mais complexa. Mas tem as mesmas bases. Meu melhor exemplo para ela é o “gato escaldado tem medo de água fria“. Um gato que sofreu queimaduras, porque um dia alguém jogou água fervendo nele, vai pular alto se sentir água fria batendo-lhe no lombo. E isso vai durar anos: a transferência automática é “qualquer água no lombo vai me queimar”. Os arquivos de dor estão cruelmente gravados em sua memória.
Disclaimer: nenhum animal foi molestado ou ferido no fazimento desta postagem.
Disclaimer 2: Mesmo falando de psicanálise, nenhuma palavra desconectada de arquivos de sua memória foi usada neste texto. Não houve “parapraxia”, nem “busca do inefável”, nem “supereu” que te deixassem perplexos. Isto foi sim intencional.
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