domingo, 10 de abril de 2022

O VÍCIO FODÃO/MERDA: UMA FACE DO SADOMASOQUISMO - O AMIGO PERGUNTA

 



Samuel Fernando: “Por que o vício fodão/merda (f&m) é sadomasoquista?”

Francisco Daudt: É de se esperar, esse estranhamento. Quando se pensa em sadomasoquismo, pensa-se numa prática sexual bizarra, com couro, botas, chicotes e algemas. Nunca se pensa num hábito do dia-a-dia, numa prática comum entre colegas de escola, funcionários de escritório, casais, membros da mesma família, “amigos” de redes sociais.

No entanto, o bullying, o assédio moral, a humilhação, o cancelamento, ou qualquer prática que implique fazer os outros sofrerem (sadismo); ou quando alguém se entrega à vitimização, ao deboche e ao sofrimento autoinfligido (masoquismo), de maneira compulsiva e sistemática, isso também se configura como um vício: o vício sadomasoquista.

Lembrando: sua face fodão/merda (f&m) acontece quando uma pessoa se torna dependente de humilhar terceiros, fazê-los de merda, para se sentir superior, se engrandecer a seus olhos e aos olhos dos espectadores, se sentir fodão.

Até o f&m sofre influência da moda: a atual tendência a mostrar superioridade moral nas tretas das mídias sociais é totalmente f&m. O mesmo vale para os caçadores de ofensas. O ofendido exibe sua virtude ao apontar o crime do ofensor, pede seu cancelamento, seu linchamento público: é o fodão “do bem” humilhando o merda, “em nome de valores elevados que ele possui”.

Esse sadomasoquismo f&m começa dentro da cabeça, numa relação perversa entre nós e nosso Superego. Absorvemos, por humilhação externa, a crença de que somos insuficientes, de que devemos ser, no fundo, uns merdas. Nosso Superego sádico nos acusa, julga e humilha, e nós, passivos e masoquistas desse maltrato interno, buscamos alívio através de nós igualar ao Superego sádico e dizer que “merda são os outros”.

É esta a origem do sadomasoquismo f&m: terceirizamos o maltrato de que um dia fomos vítimas. Nós nos tornamos os agressores, e isso nos parece melhor do que sermos os agredidos. Como naquela brincadeira idiota do colégio, o “passa adiante senão vira elefante”: não questionamos o cascudo que o da carteira de trás nos deu, pois dar o cascudo no da frente nos trouxe alívio…



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