domingo, 30 de janeiro de 2022

ORGASMOS - O AMIGO PERGUNTA

 



“Existe mesmo essa coisa de diferentes orgasmos nas mulheres? De que o orgasmo vaginal é ‘mais maduro’ que orgasmo clitoriano?”

Francisco Daudt: Existem diferentes orgasmos, tanto para mulheres quanto para homens. Só essa história de “orgasmos maduros” é que é conversa fiada e idealização superegoica.

O orgasmo, como quase tudo na espécie humana, é também resultado da interação “nature-nurture”, natureza e criação, hardware e software, nascença e cultura. O pênis e o clitoris têm a mesma estrutura e origem anatômica. Nosso embrião tem genitais em forma original feminina. No caso dos meninos, ainda durante a gestação, os hormônios vão fechar a vagina e fazer crescer o clitoris, os ‘ovários’ descem e se transformam em testículos.

É assim que os meninos terão um clitoris/pênis exposto e sensível, impossível de escapar à estimulação: todos os meninos (só os meninos?) se masturbam, a masturbação é a principal vida sexual dos homens. Com isso, os circuitos cerebrais que permitem o orgasmo ficam muito bem treinados, e como consequência, não há homens que nunca tenham experimentado o orgasmo. A mãe natureza agradece, pois a existência da humanidade depende do orgasmo masculino. Além disso há a cultura, que os impele ao sexo, por gosto e afirmação de masculinidade.

Com as mulheres, é diferente. Sua estrutura genital é escondida. Uma vez, em sala de aula, pedi que os alunos situassem anatomicamente 1.ânus, 2.meato urinário, 3.canal vaginal e 4.clitoris, no sentido ventre-dorso. Eles deveriam escrever os números sequenciados num papel e me entregar. O índice de erros foi muito alto. (A propósito, a sequência certa é 4;2;3;1).

Com isso, a masturbação feminina já é menos comum. A inibição cultural sobre a sexualidade da mulheres costuma reprimi-la ainda mais: enquanto os homens temem se parecer com mulheres/gays, as mulheres temem se parecer com promíscuas/putas, isso contribui muito para que haja mulheres que nunca se masturbaram. Uma cliente me contou que, dentro do box da privada, em seu colégio interno, havia uma pintura na porta representando o olho de Deus num triângulo, com a legenda “Deus te vê!”

Não é de se espantar, portanto, que haja muitas mulheres que nunca experimentaram orgasmo, já que seus circuitos cerebrais para ele dependem do treino masturbatório.

As diferenças de orgasmo (intensidade de prazer), tanto dos homens quanto das mulheres, correm por conta da equação controle/entrega: quanto mais controle, menos prazer; quanto mais entrega, mais prazer. Um homem pode querer um orgasmo que é quase apenas um alívio: uma rapidinha, uma mera ejaculação. A propósito, o excesso de controle leva a um problema masculino: a ejaculação precoce.

O abandono dos controles é capaz de levar a orgasmos espetaculares. A entrega, em graus maiores, leva a orgasmo que toma o corpo inteiro, deixa a pessoa exausta, e em dois casos produz até miniconvulsões: os orgasmos vaginais e anais, estes últimos em mulheres e em homens. O orgasmo anal é tão diferente do orgasmo por estímulo genital, que os homens o experimentam sem ereção e sem ejaculação.

De novo, isso não tem nada a ver com graus de maturidade ou qualquer outro juízo de valor. É apenas fruto de capacidade orgânica (zona erógena) somada ao desejo de intensidade, que leva a um treino dedicado.


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