domingo, 2 de janeiro de 2022

ERRO MÉDICO & ERRO PSICANALÍTICO

 



“Iatropatogenia” é um bom exemplo de como os médicos gostam de falar difícil. “Parece que estão falando grego”. Não, isso é grego mesmo, significa “doença (páthos) causada (gênese) pelo médico (iatros)”.

Para reduzir as chances de causar doença, uma grande rede médico-hospitalar adotou o código de barras nos medicamentos administrados aos pacientes, de modo que a enfermeira tenha que conferir se o código da pulseira do internado bate com o do remédio. Como eles dão remédios, em todo o país, 117 mil vezes por dia, as probabilidades de isso dar merda passou de imensa para aceitável.

A psicanálise tem também alta probabilidade de iatropatogenia (ou, em português claro, dar merda em sua prática). Pelo fato de eu ter sido médico clínico, isso sempre foi uma preocupação e um cuidado na minha carreira de psicanalista.

Como previnir o erro psicanalítico, sem poder contar com um código de barras para conferência? Concluí que seria pelo mesmo princípio de conferir o acerto ou erro de nossas intervenções.

Se minhas hipóteses são vagas, faladas em linguagem misteriosa ou poética (quando múltiplas interpretações são possíveis, e a maioria será errada), as chances de conferência – e de o cliente me dizer que eu estou errado – são minúsculas. Mas é tão chato ouvir do cliente que você está errado, não? É tão tentador parecer um sábio onipotente, um oráculo de Delfos inquestionável, não é mesmo?

De modo que a decisão de falar claro que um psicanalista toma, sim, requer a humildade de correr risco de ser refutado.

Mas reduz imensamente o risco de iatropatogenia.







Um comentário:

  1. Daudt , vc sempre foi claro na minha terapia .
    Só uma única vez não foi claro : qdo disse que iria interromper a terapia

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