domingo, 2 de janeiro de 2022

DRAMA: COMBUSTÍVEL DO SUPEREGO

 



Dez metros separam a casa da minha irmã da janela do meu consultório. Ela veio me perguntar: “Eu ouço você às gargalhadas com os clientes. Eles te pagam pra isso?” Respondi: “Pagam, e pagam bem. Você sabe, puta que goza ganha mais…”

Acho que minha aversão ao drama na psicanálise veio das histórias de amigos que diziam, “Hoje a análise foi fundo, cara! Saí aos prantos, saí de rastos…” Como uma Scarlet O’Hara, jurei para mim mesmo que nenhum cliente meu sairia da sessão pior do que entrou.

Passei a olhar o drama com desconfiança, não apenas na prática clínica, mas na vida em geral. O senso de humor sempre me pareceu mais atraente. Quando entendi em mim o sadomasoquismo fodão-merda, também fui deixando de lado o sarcasmo, a ironia e o deboche, pois os efeitos humilhantes de se rir de alguém também são dramáticos. Prefiro rir junto.

Finalmente entendi que o drama é o grande combustível do Superego. Essa mistura de “Juiz Cruel” com “Ideal de Perfeição” que mora em nossa cabeça precisa do drama para se fazer crível. O drama produz um clima de urgência, de ameaça, para nos chantagear com a angústia de desamparo. Quer algo mais dramático do que a ideia de que “ninguém mais vai gostar de mim”?

O Superego quer que você se leve a sério, e que leve tudo a sério, caso contrário ele não impera. Sorry, mas esse drama aí não sou eu…







Nenhum comentário:

Postar um comentário