Diagnosticar vícios e tratar deles não é coisa fácil. Você pode achar que se o vício é de substâncias o diagnóstico seria moleza. Não é. “Ah, eu só bebo socialmente”, “A maconha me ajuda a pensar”, “Eu juro que passo fome, mas só engordo, droga!” Pois é…
Quando o assunto é vício comportamental, a coisa fica mais difícil ainda. Uma historinha para ilustrar: o cliente andava pisando na jaca de seu vício contracultural de postergação, procrastinação, bosta n’água, o nome que você quiser dar para a arte de não fazer nada e ficar culpado por isso, mas dizer que vai fazer, sim, só que amanhã…
Começou a perder sessão, a ter ato falho de se esquecer, de trocar horário. Ao investigar o que havia, me ocorreu que eu estivesse ocupando o papel de Superego cobrador, por mais que fizesse de tudo para não ocupá-lo.
Aí me veio uma cena na cabeça, e perguntei a ele: “Tenho a impressão de que estou que nem aquele cara que se faz de amiguinho da moça, mas a moça fica pensando, “Ah, ele é legal assim, mas no fundo só quer me comer!”
Ele teve o maior ataque de riso! “É isso mesmo! Eu fico esperando a hora em que você vai me cobrar de começar a trabalhar!”
Foi através da comédia que ele se convenceu de que: 1. sim, ele tinha um vício; 2. realmente eu queria que fosse ele o administrador de seu vício.
Às vezes me parece que o psicanalista tem que ser uma espécie de artista… de comédia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário