quarta-feira, 29 de setembro de 2021

“SENTIR-SE OFENDIDO” DÁ STATUS

 



Existe uma corrida consumista atrás de um produto inédito (há até bem pouco tempo): “sentir-se ofendido”. Ele é o mais novo Rolex, o must de Cartier, o super SUV, o Dolce & Gabbana capaz de impressionar os outros e de causar inveja, pela superioridade social que ostenta.

Como todos os símbolos de status que entram em moda, ele atrai pela promessa de te dar um lugar de destaque, fazer que você se exiba como um pavão. Mesmo que não te torne sexualmente atraente, a sedução do prazer sádico de, com sua “grandeza moral”, humilhar os possíveis ofensores é muito sedutora.

Com a vantagem de, ao contrário dos outros símbolos de status, não custar quase nada: está ao alcance de qualquer mídia social em que você possa exibir sua treta amarga: é a democratização do Rolex…

Mas… como o Rolex - e como qualquer coisa que entre na moda - ele só impressiona enquanto serve a poucos. Se rapidamente você pode encontrar uma imitação barata na rua da Alfândega, se todo mundo começa a encher o seu saco com o mesmo carão ofendido por, sei lá, por tudo e por raros pelinhos encontrados em ovo, a moda se populariza… e se vulgariza. Vira vulgar. Deixa de funcionar.

A mão invisível do mercado opera também em produtos subjetivos: o Esperanto, o Anauê Integralista, o politicamente correto, a superioridade moral dos ofendidos… eles passaram e passarão; nós, Mário Quintana.


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