domingo, 19 de setembro de 2021

AS ARMADILHAS DA CULPA - O AMIGO PERGUNTA

 



“Mas, afinal, de onde vem o sentimento de culpa? Como ele opera em nós?”

Francisco Daudt: O sentimento de culpa 12 anos, escocês legítimo, vem de dentro. Se alguém te acusar do lado de fora, ele será menor, pois você terá de quem se defender.

Você precisa ter um superego cultivado desde a infância, com leis e respectivas punições introjetadas, absorvidas pelo ouvido.

As leis são toscas, elas juntam um antimodelo e uma punição: “filho ingrato, não vou mais gostar de você”.

Os antimodelos são variados, a punição é basicamente uma só: o desamparo, o degredo, o exílio, o banimento (hoje em dia, o cancelamento). Satanás se rebelou contra Deus? Expulsão para o inferno…

A culpa tem três faces: a vergonha; o sentimento de estar em falta/dívida; e ela própria, agravada pelas duas anteriores.

Vergonha: vem de se ver igualado ao antimodelo. Se você “é igual a fulano; igual, não: pior!” Se você se vê exposto a essa ignomínia, haja vergonha…

Sentimento de dívida, de estar em falta: o “filho ingrato” é exemplar. “Eu te dei a coisa mais importante, eu te dei a vida, e é assim que você me retribui?”

As premissas do “filho ingrato” são muito interessantes; para haver ingratidão, é necessário que:

1. Você tenha sido consultado previamente se queria receber esse prêmio (você pediu pra nascer);

2. Tudo que seus pais vem fazendo por você desde então são favores, entram para o passivo da sua dívida.

3. Sua quitação de dívida se dará por subserviência e devoção, caso contrário, sua dívida aumentará.

Mas… se a criança vai crescendo e continua vivendo na aba dos pais, não conquista independência, aí sim, a armadilha se fecha: ela recebe favores sim, e a dívida cresce sim. Dessa maneira, a crença no filho ingrato vai fazendo mais e mais sentido.

Sentimento de culpa: ele é também uma espécie de chicoteamento indenizatório prévio, diante da terrível ameaça de punição que é o desamparo. Uma tentativa de quitação da dívida através do sofrimento: “Não me desampare, tenha misericórdia, olha como eu estou sofrendo! Eu já estou pagando minha pena!

Eu reconheço meu pecado, eu me arrependo dele!”

A vitimização e o coitadismo são extrapolações dessa estratégia: “eu não sou culpado, eu sou vítima! Eu não fiz nada, eles é que fizeram!”

A psicanálise traz à consciência todas as injustiças do processo; aí mora seu poder de cura: no nosso desejo de justiça.


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