LUTO E DEPRESSÃO
“Qual a diferença entre luto e depressão?”
Francisco Daudt: É uma diferença de vida e de morte. Apesar de o luto ser por algo ou alguém que morreu, pessoa ou amor, ele está muito mais para um processo vital do que a depressão, que é mortiça, apagada e sem vida.
O luto fala de amor, de uma parte doída do amor, mas ele é cheio de afeto, o principal deles a tristeza.
Um luto normal tem beleza, tem a contemplação de memórias, e seu término deixa uma rica herança: contemplar a felicidade de ter vivido uma bela história, o legado de lembranças, como disse Drumond:
“…mas as coisas findas, muito mais que lindas, essas ficarão”.
No entanto, é verdade: o luto pode ser doente e trazer depressão. A depressão resulta de uma linha de montagem de angústias prolongadas: ameaças variadas de desamparo… e sentimento de culpa. Neste último mora o risco depressivo do luto: a ideia de que poderíamos ter salvo o perdido, as auto-acusações que daí partem podem bem resultar em depressão.
Que é um mecanismo de defesa estranho, uma sem-gracice sombria, um recolhimento inerte que, aí sim, se parece com a morte em vida.
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