quarta-feira, 18 de agosto de 2021

CRIADORES, DIVULGADORES, DILUIDORES

 


O panteão dos criadores tem poucos deuses (Copérnico, Darwin, Freud, Einstein p.ex.) que quebraram paradigmas e inventaram novos, mudando assim a maneira de pensar de toda a humanidade.

Os divulgadores estendem o que pegaram dos criadores, mas não só trazem ao público, são capazes de acrescentar - e muito - a partir daquelas bases.

Os diluidores entregam o produto dos criadores, mas ele se estraga na viagem. Poderiam ser chamados de “vulgarizadores”: a diferença entre tornar público e tornar vulgar.

Um amigo que mora na China e tem doutorado em Taoismo e religiões chinesas se vê como criador (realmente, sua contribuição que liga a influência do pensamento chinês com suas religiões é muito original). Ele quer me convencer que minha intervenção na psicanálise é também de criador. Não é. 

Mas é um bom debate:

“Meu caro,
Sobre o dilema criador x divulgador, pensei muito nele. 

Eu me via como criador, com essa coisa de unir psicanálise com psicologia evolucionista (elas têm óbvias complementariedades), com a percepção de o superego ser um programa de sobrevivência na origem, e que ele se torna complexo com os aprendizados da cultura, invadido pelas crenças disfuncionais que evitam o desamparo na infância (já que a criança está nas mãos daqueles pais - necessariamente - incompetentes para a função de criá-la).

Criador, na reconcepção do complexo de Édipo como representante do embate sadomasoquista/domínio/submissão que se deu entre a criança e seus pais, que se eterniza pela vida afora de maneira automática, embate esse que se reencena depois de crescido, como drama (e não como farsa), numa constante tentativa inconsciente de “consertar” o passado, de “converter” pessoas idênticas às iniciais em amorosas considerativas.

Criador, na percepção de que a principal causa das doenças psíquicas é viciosa, e não neurótica, uma continuação do vicio sadomasoquista sutil que se dá entre a pessoa e seu superego. 

Criador, na abordagem terapêutica de diagnosticar esse vício e centrar meus esforços na compreensão/aprendizado do Desejo mais belo/ético de que a pessoa é capaz. E não só diagnosticar, mas conduzi-la ao treino de um caminho novo, ainda que trabalhoso, para seu desejo.

Mas reconheço que estava tudo lá, em Freud e em Darwin. O que me parece fazer de mim um divulgador bacana, que “agrega valor” às teorias. Não mais que isso.”




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