VÍCIOS E SEUS GANHOS
“Eu entendo o ganho de prazer em vários vícios comportamentais, mas… qual é o ganho do masoquismo?”
Francisco Daudt: Bem, no masoquismo sexual ele é óbvio: o castigo e a dor liberam da culpa e permitem o gozo. Há uma “satisfação ao superego”, um pedágio pago.
Já no masoquismo sutil, muito comum nas relações familiares (casais, pais e filhos) e no trabalho (assédio moral), há ganhos também sutis:
1. a nobreza do martírio: a cultura judaico-cristã enobrece o sacrifício (o feito sagrado), por aí a pessoa pode se sentir intimamente engrandecida, moralmente superior.
2. A vingança sutil: ao aparecer como a vítima sofredora, o agressor será visto – pelos outros – como um canalha.
3. O culto do coitadismo: ao enaltecer seu sofrimento, a pessoa pode pleitear ganhos indenizatórios. Essa modalidade tem se tornado uma política de grupos minoritários, atualmente. Apesar de haver justiça na base dessa luta, a linha que divide o uso do abuso, o pleito justo e a ambição de se tornar opressor, é também sutil.
4. Mas é preciso lembrar que o primeiro ganho desse masoquismo é ter-se evitado o confronto: por medo, ou pela culpa de se ter raiva de alguém muito importante para nossa sobrevivência (um pai, um patrão et al.)
É por isso que a psicanálise vê o combo sadomasoquismo nunca separado em dois grupos estanques: a pessoa pode ser manifestadamente sádica e sutilmente masoquista… e vice-versa.
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