domingo, 4 de julho de 2021

“O vício é falta de vergonha na cara?” - O AMIGO PERGUNTA

 


VÍCIOS

“O vício é falta de vergonha na cara?”

Francisco Daudt: Não é. O vício é uma doença, e a tentativa de fazer com que a pessoa o abandone através do sentimento de culpa ou de vergonha é o maior tiro no pé que se pode dar. A culpa/vergonha são tão incomodas, que levam o viciado a eliminá-las… com mais uma dose.

Chama-se de vício à repetição compulsiva (“mais forte do que eu”) de algum ato que dá satisfação imediata, mas que se sabe errado, ou prejudicial aos nossos principais interesses. Quando há uma momentânea restrição interna, a pessoa diz, “ah, foda-se, vou fazer!”.

Há os vícios óbvios de substâncias que dão prazer imediato, e infelizmente entre elas estão os carboidratos. O que separa o uso do abuso, o hábito do vício, é o dano (daí o “dane-se”) aos principais interesses da pessoa.

E há os vícios comportamentais, como a hipocondria, a cleptomania, e o mais comum de todos: o fodão/merda.

O f&m é uma variante sutil do sadomasoquismo. É curioso, porque enquanto o sadomasoquismo, aquele sexual das botas e chicotes, é bem raro, já esses maltratos entre casais, com um humilhando o outro em público (em privado também, claro), são muito frequentes.

Eu os tomo como o exemplo mais claro do jogo fodão/merda: um parceiro, inseguro em sua autoestima, intimamente se achando um merda, encontra alívio momentâneo posando de fodão ao humilhar o outro, ao dizer que “merda é ele”.

Mas esse comportamento não se restringe aos casais. De jeito nenhum, ele é a praga psicológica que mais se espalha na atualidade. A compulsão de apontar os defeitos dos outros para se engrandecer, para obter alívio de sua condição de merda, atinge até presidentes da república: pense no Donald Trump…


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