domingo, 4 de julho de 2021

“Como se tratam os vícios? Têm cura?” - O AMIGO PERGUNTA

 


VÍCIOS 2

“Como se tratam os vícios? Têm cura?”

Francisco Daudt: Vício não tem cura, mas… pode-se viver muito bem sem eles.

É preciso saber que a predisposição ao vício de substâncias é genética. Os filhos devem ser avisados de que herdaram o gatilho, que se cuidem bem.

Uma senhora de setenta anos quis se divorciar: “Meu marido é alcoólatra e me bate”. “Quantos anos a sra. tem de casada?”. “Cinquenta”. O marido, filho de alcoólatras, passou a vida evitando o álcool. Aposentado, foi convencido pelos amigos que “agora ele podia se dar a esse direito”. Desenvolveu alcoolismo em dois anos…

Seja de substâncias, seja de comportamento, os vícios são tratados com um princípio geral (reconhecimento de se ter a doença, para poder gerenciá-la) e duas estratégias básicas: desinvestimento/abstinência do vício; investimento nas virtudes.

Sobre o princípio geral: não adianta acusar, nem vigiar, nem punir; se a própria pessoa não se reconhece dominada pela doença, nada, NADA vai adiantar. Nem vergonha, nem culpa, nem internação, nem remédios. Nada. A pessoa precisa ser a gerente de seu vício, da busca de sua cura, é sua única chance.

Sobre as estratégias: reconhecida a doença, vem a pergunta: que perspectivas de vida virtuosa (ética, bela, construtiva, autônoma, independente) tem a pessoa? É preciso que as haja. Se não estiverem à vista, é preciso buscá-las.

A saída de um vício deixa um buraco na alma, uma falta de sentido, um vazio social/afetivo, pois que os cúmplices se parecem muito com amigos. É necessária a substituição de uma coisa por outra; outros círculos sociais, outras companhias, outras amizades que não se baseiem no vício.

A abstinência: todo viciado em substância passa um tempo verificando se realmente tem que ir para o “substância-zero”, ou se pode “usar um pouquinho”. Ele próprio precisará descobrir a resposta, mesmo que na enorme maioria das vezes o “substância-zero” seja o destino.

Já no caso dos vícios comportamentais, a abstinência é mais difícil. Como todos eles se baseiam numa ilusão de superioridade, numa crença na ideologia fodão/merda, numa tentação de se sentir fodão a cada momento, o cultivo da virtude precisa ser simultâneo. Que virtude? A humildade. O saber-se falho, o aceitar-se incompleto. O apreciar-se em construção. O ter metas de se fazer melhor (melhor, veja bem; não “superior”).

O papel do psicanalista: nunca acusar, nunca humilhar, nunca culpar. Apoiar a luta, ser seu parceiro, descobrir capacidades e potenciais virtuosos do cliente. Entender e investigar as circunstâncias históricas e as circunstâncias-gatilho.

Mostrar como seu cliente foi envolvido e seduzido por elas. Ajudá-lo a identificá-las e previni-las.



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