É tudo uma questão de justiça. Ou de como se chega a ela a partir da injustiça. A opressão contém injustiça, por definição: um desequilíbrio da balança de poderes da justiça.
Somos programados para reagir à injustiça: ela nos gera raiva. Se um filho vê seu irmão receber atenções desequilibradas, ele sente uma forma de raiva: o ciúme. Assim é nossa reação em todas as situações em que nos sentimos injustiçados: ficamos com raiva.
Se não houver raiva, indignação, não reagiremos, não haverá busca de justiça. Pode-se dizer então que a raiva é mãe da justiça.
A questão seguinte será como a justiça é feita. O irmão ciumento pode dar com um pau na cabeça do queridinho. O motorista que levou uma fechada pode perseguir o infrator para se vingar. Sim: a vingança é a mais primitiva forma de justiça. Daí os justiceiros, os linchamentos, os cancelamentos etc.
A vingança é reativa, e a reatividade é o movimento mental mais rápido, simplório e comum da humanidade.
Necessário à sobrevivência, sob pressão todos reagimos, não refletimos. Não há tempo nem calma para a reflexão.
Se a reação contempla a simples sobrevivência, a reflexão contempla a complexidade da vivência. Mas ela precisa de paz e de tempo. Não foi à toa que seu primeiro marco histórico só se deu há 2.400 anos: a Grécia clássica.
De volta à justiça, ao longo da história inúmeros movimentos contra a opressão foram necessariamente violentos, reativos, revolucionários e exagerados ao oposto, num primeiro momento.
O mesmo se deu/dá em relação à homossexualidade. Tomemos um indivíduo gay, como exemplo: com a percepção de que é diferente da maioria, e com características que o senso comum rotula como “erradas”, ele passou grande parte de sua vida ocultando sua condição; envergonhado dela. Ele vive uma guerra surda, uma opressão injusta, e reage do jeito que pode, se escondendo.
Quando as condições mudam, ele sai do armário e passa, reativamente, ao extremo oposto: da vergonha ao orgulho gay. Desfilará sua condição como um estandarte, pois continua em guerra, em busca de justiça para si e seus pares, agora na fase da vingança.
Como fruto dessa reação vingativa contra os opressores, muitos oprimidos conseguiram um tempo de paz, um lugar ao sol, uma jurisprudência para seu direito de ser quem é, agora com serenidade e possibilidade de reflexão.
Mas... “si vis pacem, para bellum” (“se queres a paz, prepara a guerra”), diziam os romanos. Ou, como eu dizia a meus filhos, “quando Freud não explica, Lampião entra em ação”.
Sem esquecer que nosso desejo é a serenidade, a paz e a reflexão racional, os maiores potenciais de uma espécie que se pretende Sapiens...
A CRIAÇÃO ORIGINAL - A TEORIA DA MENTE SEGUNDO FREUD
Disponível em: https://7letras.com.br/livro/a-criacao-original/
Nenhum comentário:
Postar um comentário