domingo, 13 de junho de 2021

O PUDOR DE SENTIR RAIVA

 



Um amigo toca numa questão que sempre me demanda um esforço especial: como nomear o sentimento despertado pela injustiça sem produzir reações desconfortáveis.

Sempre que menciono “raiva”, há quem se manifeste contra essa emoção, supondo que ela implica ações destrutivas e nefastas, não vendo que ela pode funcionar como um meio de busca civilizada de justiça, recusando-se a ver tal mácula em seu coração. Se eu falar em “ódio”, aí então fecha o tempo...

Primeiramente, concordaremos que sofrer uma injustiça não nos faz felizes. Mas como nomear esse sentimento desagradável? Tenho tentado “desconforto”, “inconformismo”, “indignação”, “ressentimento”, “ultraje”, “mágoa”, “mal-estar”.

Não tenho nada contra esses eufemismos, mas penso que “raiva” tem a virtude de, não apenas resumi-los, mas também a de suscitar debates como este.

A raiva é um sentimento visto como feio e mau desde nossa infância, quando somos ensinados a só ter bons sentimentos, “vocês são irmãozinhos e devem se amar, nunca sentir raiva um do outro”, mesmo se o outro nos sacaneou brabo.

A repressão da raiva é o motor da neurose obsessiva, e da sua formação reativa, a “bonzinhice”, que torna as crianças presas fáceis do bullying.

Mas a raiva é como a dor e a febre: um sinal de que algo não vai bem, de que alguma providência se faz necessária. A ausência de dor ou febre pode nos deixar negligentes com a doença, e nos levar à morte.

A ausência de raiva diante da injustiça permite que ela prospere e nos cause danos ainda maiores.



 
 A CRIAÇÃO ORIGINAL - A TEORIA DA MENTE SEGUNDO FREUD



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