O termo “gaslighting” (“manipulação psicológica”) vem sendo usado quando alguém sofre um processo de desnorteamento/enlouquecimento proposital promovido por outros, necessariamente pessoas próximas.
Ele saiu do título de um filme (“Gaslight” / “À meia-luz”, George Cukor, 1944) em que a heroína sofre uma manipulação psicológica feita pelo marido para que ela deixe de acreditar em suas percepções e comece a achar que enlouqueceu.
Infelizmente, existe na vida real. Acompanhei um caso em que minha cliente ouvia de sua família insinuações, comunicações cifradas, alusões, indiretas, sarcasmos, falas a terceiros na sua frente que pareciam se referir a ela. Quando tentava esclarecer as coisas, era ridicularizada, “é tudo da sua cabeça, ninguém estava falando de você”, “não se pode brincar mais com você?”, “tá maluca?”, “que paranoia” etc.
Deu um trabalho detetivesco enorme, recolhendo manifestações mais consistentes, evidências esparsas, até que delineássemos o processo sádico de gaslighting que ela sofria.
A segunda parte foi fazer com que ela visse que havia se metido num vício sadomasoquista com eles, e que ela acabava estimulando o bullying na medida em que se encolhia (a lei do bullying é “quem se encolhe apanha mais”).
Quando ela começou a não entrar no jogo, a cuidar mais de sua vida, a síndrome de abstinência atingiu seus familiares (“Como assim? Ela vai deixar de ser a louca da família?”), eles se tornaram mais agressivos e evidentes, fazendo-a ver que não podia confiar mais neles.
Isso lhe deu sentimentos ambivalentes: alívio, pois viu que não estava louca; mas também grande tristeza e um luto pela perda do investimento afetivo que tinha neles.
Por mais duro que seja, é melhor ver o câncer, ou ele não será tratado.
A CRIAÇÃO ORIGINAL - A TEORIA DA MENTE SEGUNDO FREUD
Disponível em: https://7letras.com.br/livro/a-criacao-original/
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