Gostei de terem inventado o conceito de F.O.M.O. (“Fear of missing out”), o medo de estar perdendo alguma coisa melhor, a compulsão de se divertir, de ter permanente excitação, uma praga contemporânea da geração mimada com vício de companhia e das mídias sociais.
Por que praga? Pelo cultivo do imediatismo como valor indiscutível, o prazer incessante como direito adquirido e inalienável.
“Abaixo o natal com data marcada; natal pode ser a qualquer hora! Nós queremos Monareta AGORA!”, assim cantava uma propaganda dos anos 80, anunciando a chegada dos “entitled” (“aqueles que têm direito”, um aperfeiçoamento dos “spoiled”, estragados”, mimados, em inglês).
Mas, qual é o problema de se querer prazer? Nenhum, em princípio. O problema está no tipo de prazer: há o prazer de alívio e o prazer de realização. O de alívio mais caricatural e extremado é heroína na veia. Dizem que não existe prazer maior e mais imediato. É pena que não se repita, pois depois do vício instalado (bastam duas doses, é como crack), a nova injeção só serve para tirar a síndrome de abstinência.
O prazer de realização requer investimento: conhecimento do próprio desejo, capacidade de reflexão e construção. Isto serve para uma relação amorosa, para encontrar uma profissão que dê sustento e seja bonita de fazer, tanto quanto para o prazer que tenho ao escrever este texto, já que ele é fruto de tudo o que enumerei antes.
O cultivo do imediatismo que leva ao F.O.M.O. emburrece, pois incapacita para a reflexão, já que ele é fruto de pura reação. Depois do pequeno barato que vem de se checar pela enésima vez as últimas postagens das mídias, vem a fissura de fazer mais uma, ver mais outra, numa aceleração que leva à... insônia.
O dormir requer ritual de desacelaração. Você já deve ter visto aquelas crianças hiperativas que não dormem, e sim desmaiam de exaustão. Pois o F.O.M.O. funciona igual. O dia não termina, pois “eu ainda posso ver mais uma coisa, fazer mais outra”.
Dificilmente alguém estará imune ao F.O.M.O., pois ele já se instalou no espírito do tempo atual. Minha intenção aqui é, como faz a psicanálise, tornar consciente as armadilhas que nos aprisionam, buscar liberdade, independência e autonomia.
E depois, dormir o sono dos justos...
A CRIAÇÃO ORIGINAL - A TEORIA DA MENTE SEGUNDO FREUD
Disponível em: https://7letras.com.br/livro/a-criacao-original/
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