quarta-feira, 28 de abril de 2021

ADAPTAÇÃO DE LINGUAGEM

 



Um psicanalista carioca famoso mencionou a puberdade durante uma palestra. A moça na plateia levantou o dedo e perguntou: “o que é puberdade?”

O palestrante fez uma cara de quem viu um ornitorrinco... e prosseguiu a palestra sem respondê-la.

Esse caso me remeteu a duas coisas interessantes que Paulo Freire falou (sem entrar no mérito das outras):

1. Não existe pergunta idiota; todas podem despertar ricas reflexões.

2. Cabe ao professor adaptar sua linguagem ao aluno. Se você está alfabetizando um nordestino do interior, “vovó viu a uva” não servirá como texto, pois dificilmente ele terá avó e certamente nunca viu uma uva.

Voltando ao caso, era uma bela oportunidade de distinguir adolescência de puberdade. “Adolescer” significa crescer, donde adolescência é “em crescimento”. Puberdade diz respeito à invasão dos hormônios sexuais que acontece lá pelos doze anos em diante. A puberdade (do latim “pubertas”, pelos, barba) implica uma tremenda mudança de vida, para a criança. Ela se vê diante de uma transformação corporal que põe fim à infância e anuncia todas as inseguranças da vida adulta, desde as negociações sexuais até a de como ganhar dinheiro e ser independente.

Olha só a oportunidade que o psicanalista perdeu...

A segunda questão, a da vovó que viu a uva, é crucial para o psicanalista. Ela é mesmo um divisor de águas. Eu sei que venho enchendo o saco com essa repetição sobre a necessidade de clareza e transparência na fala do analista, mas a cada vez um detalhe novo disso aparece.

No exemplo do palestrante, ficou clara uma triste mensagem: “eu sou superior e você é inferior; se você quiser saber o que estou falando, corra atrás, pois eu me dou ao direito de ser enigmático, esotérico (significa “para poucos”) e vago”.

Em termos de teoria psicanalítica, seria algo como: “eu sou representante do Superego, não preciso convencer, uso o argumento de autoridade, devo ser reverenciado e temido; diante do Superego, todos devemos nos curvar”.

Sim, é triste, mas os psicanalistas se dividem entre aqueles que, como eu, acham o Superego parte do problema; e aqueles que o usam – muitas vezes sem sabê-lo, pois nunca se questionaram a respeito – como ferramenta de trabalho, subjugando o cliente.




 
 A CRIAÇÃO ORIGINAL - A TEORIA DA MENTE SEGUNDO FREUD




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