“Depois de muitos estudos, concluí que o elefante é um conjunto de quatro grossas palmeiras, cravadas no chão”, disse o primeiro palestrante do Congresso de Cegos.
“Discordo!”, disse o segundo, “a minha observação mostra que ele é uma grande mangueira, com dois furos na ponta”.
“Nada disso, ele é um muro com uma corda pendurada, que termina em um chumaço de pelos!”, disse o terceiro.
Desde então, o elefante se tornou meu ícone da complexidade. Como explicar ao cliente que o aspecto por mim apontado não anula o outro, mesmo sendo o oposto dele? Como dizer que ele pode amar e também não gostar de um filho que urra sem parar durante a noite? Como fazê-lo ver que sua sexualidade não é uma coisa só? Como evocar Mário de Andrade, e lembrar-lhe “você é trezentos”?
O senso comum induz a um pensamento automático que não é estéreo, é mono; não é policromático, é preto ou branco. Ele te encosta na parede com a falácia do “reductio ad absurdum”: “Ah, você quer entender as razões do estuprador? Então você é a favor do feminicídio, né?” Ele cria censura do pensamento, pudores ideológicos, medo da incorreção política.
Ele emburrece por simplorismo. São duas coisas que a psicanálise não pode ser: nem burra, nem simplória.
Minha metáfora favorita para falar da complexidade sempre foi a análise vetorial: sobre o mesmo ponto, várias forças (os vetores) são aplicadas. Elas têm intensidade, direção e sentidos diferentes. Ainda por cima, mudam constantemente. Desse conjunto surgirá uma resultante que move o ponto.
“Você é uma boa pessoa. Mas não está imune à raiva. Quando ela aparece, você fica horrorizado. Por isso, move-se na direção contrária, e se torna super bonzinho. Como resultado, as pessoas abusam da sua bondade. Isso te dá mais raiva. Mais raiva, mais perturbação. É dessa misturada de forças atuando sobre você que vem seu sintoma de pensamentos raivosos invasivos...”
Mas a análise vetorial requer uma lembrança que seja das aulas de física, o que não é comum. Passei então a usar um rio e seus afluentes, para falar dos componentes alimentadores da complexidade. Ah, tem até a pororoca, como vetor contrário.
Enfim, falar da complexidade é complexo, um pleonasmo redundante; entendê-la é um plus a mais, adicional...
A CRIAÇÃO ORIGINAL - A TEORIA DA MENTE SEGUNDO FREUD
Disponível em: https://7letras.com.br/livro/a-criacao-original/
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